Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 14 de novembro de 2021

Surjit Patar - Meu poema

Este poema, originalmente redigido no idioma punjabi, descreve-nos uma mãe, provavelmente iletrada, que não logra compreender o poema do filho, mesmo tendo sido escrito na língua que lhe diz respeito. Nada obstante, deduz que o seu rebento anda envolto nas nébulas da tristeza, por preferir lançar ao papel as razões de seu sofrimento, a contar-lhe diretamente o que se passa.

O sentimento imarcescível de uma mãe pelos filhos supera qualquer barreira de linguagem, pois as pontes de amor que dela se irradiam são meios hábeis ao compartilhamento de pensamentos e emoções: veja-se a expressão do afeto da genitora do poeta, ao levar ao peito o papel onde escrito o poema, desvelando-lhe por outros modos o seu significado!

J.A.R. – H.C.


Surjit Patar

(n. 1945)

 

Meu poema

 

Minha mãe não entendeu o meu poema

mesmo sendo escrito em minha língua materna.

Ela só pensou que alguma tristeza

atormentava a alma de seu filho.

 

E se perguntou

de onde essa tristeza tinha vindo

quando ela estivera ali o tempo todo

guardando a alma de seu filho.

 

Ela varreu meu poema com cuidado

e exclamou para si mesma:

“Vejam, amigos, vejam!”

Ao invés de contar à mãe,

que lhe deu à luz de dentro de seu ventre,

o filho prefere contar seu sofrimento ao papel.

 

Então, ela levou o papel ao peito,

esperando talvez

que dessa forma pudesse

alcançar seu filho tristonho.

 

Uma anciã lendo

(Cowan Dobson: pintor escocês)


Referência:

PATAR, Surjit. Meu poema. Tradução de Divanize Carbonieri. In: Universidade de São Paulo / Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP). Cadernos de literatura em tradução, Especial Índia: 100 grandes poemas da Índia, São Paulo, n. 19, 2018. p. 88. Disponível neste endereço. Acesso em: 22 set. 2021.

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