Este poema, originalmente redigido no idioma punjabi, descreve-nos uma mãe, provavelmente iletrada, que não logra compreender o poema do filho, mesmo tendo sido escrito na língua que lhe diz respeito. Nada obstante, deduz que o seu rebento anda envolto nas nébulas da tristeza, por preferir lançar ao papel as razões de seu sofrimento, a contar-lhe diretamente o que se passa.
O sentimento imarcescível de uma mãe pelos filhos supera qualquer barreira de linguagem, pois as pontes de amor que dela se irradiam são meios hábeis ao compartilhamento de pensamentos e emoções: veja-se a expressão do afeto da genitora do poeta, ao levar ao peito o papel onde escrito o poema, desvelando-lhe por outros modos o seu significado!
J.A.R. – H.C.
Surjit Patar
(n. 1945)
Meu poema
Minha mãe não entendeu o meu poema
mesmo sendo escrito em minha língua materna.
Ela só pensou que alguma tristeza
atormentava a alma de seu filho.
E se perguntou
de onde essa tristeza tinha vindo
quando ela estivera ali o tempo todo
guardando a alma de seu filho.
Ela varreu meu poema com cuidado
e exclamou para si mesma:
“Vejam, amigos, vejam!”
Ao invés de contar à mãe,
que lhe deu à luz de dentro de seu ventre,
o filho prefere contar seu sofrimento ao papel.
Então, ela levou o papel ao peito,
esperando talvez
que dessa forma pudesse
alcançar seu filho tristonho.
Uma anciã lendo
(Cowan Dobson: pintor escocês)
Referência:
PATAR, Surjit. Meu poema. Tradução de Divanize
Carbonieri. In: Universidade de São Paulo / Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas (FFLCH/USP). Cadernos de literatura em tradução,
Especial Índia: 100 grandes poemas da Índia, São Paulo, n. 19, 2018. p. 88.
Disponível neste endereço. Acesso em: 22 set. 2021.
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