O’Hara vê no crítico o “assassino” de seus pomares, uma ameaça à sua sobrevivência na “ars poética”, uma figura que tem a capacidade de, com a sua pena, levar à rejeição ou ao ostracismo a obra do vate, impedindo o seu acesso às futuras gerações de leitores e mesmo a uma pretensa imortalidade no olimpo literário.
O poema, como se percebe, é em boa medida autoexplicativo. E quando o poeta mescla imagens sexuais a outras bíblicas, de fato, intenta – parece-me – fazer ver que o crítico, vezes sem conta, acaba por se aprofundar desnecessariamente em suas análises, sobre questões que, de fato, não vão muito além da superfície das coisas, do que se revela contingente, da fugacidade de cada momento – sem furtivas camadas com conotações simbólicas a desvelar.
J.A.R. – H.C.
Frank O’Hara
(1926-1966)
The Critic
I cannot possibly think of you
other than you are: the assassin
of my orchards.
You lurk there
in the shadows, meting out
conversations like Eve’s first
confusion between penises and
snakes. Oh
be droll, be jolly
and be temperate!
Do not
frighten me more than you
have to! I
must live forever.
Retrato de Denis Diderot
(Louis-Michel van Loo: pintor francês)
O Crítico
É-me impossível imaginar-te
para além do que és: o assassino
dos meus pomares. Espreitas lá
nas sombras, a entabular
conversas como a da primeira
confusão de Eva entre pênis e
serpentes. Oh sê espirituoso, sê agradável,
sê moderado! Não me
assustes mais do que o
necessário! Tenho que viver para sempre.
Referência:
O’HARA, Frank. The critic. In:
__________. The collected poems of Frank O’Hara. Edited by Donald Allen
with na introduction by John Ashbery. 1st paperback printing. Berkeley, CA:
University of California Press, 1995. p. 48.
Nenhum comentário:
Postar um comentário