Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Frank O’Hara - O Crítico

O’Hara vê no crítico o “assassino” de seus pomares, uma ameaça à sua sobrevivência na “ars poética”, uma figura que tem a capacidade de, com a sua pena, levar à rejeição ou ao ostracismo a obra do vate, impedindo o seu acesso às futuras gerações de leitores e mesmo a uma pretensa imortalidade no olimpo literário.

O poema, como se percebe, é em boa medida autoexplicativo. E quando o poeta mescla imagens sexuais a outras bíblicas, de fato, intenta – parece-me – fazer ver que o crítico, vezes sem conta, acaba por se aprofundar desnecessariamente em suas análises, sobre questões que, de fato, não vão muito além da superfície das coisas, do que se revela contingente, da fugacidade de cada momento – sem furtivas camadas com conotações simbólicas a desvelar.

J.A.R. – H.C.

 

Frank O’Hara

(1926-1966)

 

The Critic

 

I cannot possibly think of you

other than you are: the assassin

 

of my orchards.  You lurk there

in the shadows, meting out

 

conversations like Eve’s first

confusion between penises and

 

snakes.  Oh be droll, be jolly

and be temperate!  Do not

 

frighten me more than you

have to!  I must live forever.

 

Retrato de Denis Diderot

(Louis-Michel van Loo: pintor francês)

 

O Crítico

 

É-me impossível imaginar-te

para além do que és: o assassino

 

dos meus pomares. Espreitas lá

nas sombras, a entabular

 

conversas como a da primeira

confusão de Eva entre pênis e

 

serpentes. Oh sê espirituoso, sê agradável,

sê moderado! Não me

 

assustes mais do que o

necessário! Tenho que viver para sempre.


Referência:

O’HARA, Frank. The critic. In: __________. The collected poems of Frank O’Hara. Edited by Donald Allen with na introduction by John Ashbery. 1st paperback printing. Berkeley, CA: University of California Press, 1995. p. 48.

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