Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de novembro de 2021

Langston Hughes - O Negro Fala de Rios

Hughes reporta-se, nos versos deste expressivo poema, à figura do negro ao longo da história humana, desde os primórdios da civilização – o poeta faz menção, de início, à presença negra na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates e, logo adiante, no Egito, banhado pelo Nilo – até mais recentemente, em terras do Mississipi, junto ao grande rio, onde submetido a infame regime de escravidão.

Profunda como os rios onde se “banhou”, a índole do negro incorporou, de forma contínua, os elementos que moldaram a sua atual identidade cultural – de luta contra os traumáticos regimes de servidão e de enfrentamento à violência a que sempre exposto –, sem que, vezes sem conta, se dê crédito às suas vitais contribuições ao soerguimento de estruturas legendárias sobre a terra – como as pirâmides egípcias – e a outras tantas no domínio da cultura – como o jazz, consigne-se, desde o seu berço em New Orleans.

J.A.R. – H.C.

 

Langston Hughes

(1901-1967)

 

The Negro Speaks of Rivers

 

I’ve known rivers:

I’ve known rivers ancient as the world and older than the

flow of human blood in human veins.

 

My soul has grown deep like the rivers.

 

I bathed in the Euphrates when dawns were young.

I built my hut near the Congo and it lulled me to sleep.

I looked upon the Nile and raised the pyramids above it.

I heard the singing of the Mississippi when Abe Lincoln

went down to New Orleans, and I’ve seen its muddy

bosom turn all golden in the sunset.

 

I’ve known rivers:

Ancient, dusky rivers.

 

My soul has grown deep like the rivers.

 

Encontro de Rios

(Alexander Y. Jackson: pintor canadense)

 

O Negro Fala de Rios

 

Tenho conhecido rios:

Tão antigos quanto o mundo e mais velhos que o

fluxo do sangue humano nas veias humanas.

 

Minha alma se tomou profunda como os rios.

Banhei-me no Eufrates em jovens alvoradas.

Fiz minha cabana junto ao Congo e senti suas águas

me embalarem.

Olhei por sobre o Nilo e ergui as pirâmides perto dele.

Ouvi o canto do Mississipi quando Abe Lincoln

desceu até New Orleans e vi seu peito lamacento

tornar-se em ouro, ao pôr do sol.

 

Tenho conhecido rios:

Rios antigos, rios sombrios.

 

Minha alma se tomou profunda como os rios.


Referência:

HUGHES, Langston. The negro speaks of rivers / O negro fala de rios. Tradução de Lúcia Granja. In: PAES, José Paulo (Organização, Nota Liminar e Posfácio). Transverso: coletânea de poemas traduzidos. Edição bilíngue. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1988. Em inglês: p. 122; em português: p. 123. (Coleção ‘Viagens da Voz’)

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