Hughes reporta-se, nos versos deste expressivo poema, à figura do negro ao longo da história humana, desde os primórdios da civilização – o poeta faz menção, de início, à presença negra na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates e, logo adiante, no Egito, banhado pelo Nilo – até mais recentemente, em terras do Mississipi, junto ao grande rio, onde submetido a infame regime de escravidão.
Profunda como os rios onde se “banhou”, a índole do negro incorporou, de forma contínua, os elementos que moldaram a sua atual identidade cultural – de luta contra os traumáticos regimes de servidão e de enfrentamento à violência a que sempre exposto –, sem que, vezes sem conta, se dê crédito às suas vitais contribuições ao soerguimento de estruturas legendárias sobre a terra – como as pirâmides egípcias – e a outras tantas no domínio da cultura – como o jazz, consigne-se, desde o seu berço em New Orleans.
J.A.R. – H.C.
Langston Hughes
(1901-1967)
The Negro Speaks of Rivers
I’ve known rivers:
I’ve known rivers ancient as the world and older
than the
flow of human blood in human veins.
My soul has grown deep like the rivers.
I bathed in the Euphrates when dawns were young.
I built my hut near the Congo and it lulled me to
sleep.
I looked upon the Nile and raised the pyramids
above it.
I heard the singing of the Mississippi when Abe
Lincoln
went down to New Orleans, and I’ve seen its muddy
bosom turn all golden in the sunset.
I’ve known rivers:
Ancient, dusky rivers.
My soul has grown deep like the rivers.
Encontro de Rios
(Alexander Y. Jackson: pintor canadense)
O Negro Fala de Rios
Tenho conhecido rios:
Tão antigos quanto o mundo e mais velhos que o
fluxo do sangue humano nas veias humanas.
Minha alma se tomou profunda como os rios.
Banhei-me no Eufrates em jovens alvoradas.
Fiz minha cabana junto ao Congo e senti suas águas
me embalarem.
Olhei por sobre o Nilo e ergui as pirâmides perto
dele.
Ouvi o canto do Mississipi quando Abe Lincoln
desceu até New Orleans e vi seu peito lamacento
tornar-se em ouro, ao pôr do sol.
Tenho conhecido rios:
Rios antigos, rios sombrios.
Minha alma se tomou profunda como os rios.
Referência:
HUGHES, Langston. The negro speaks of rivers
/ O negro fala de rios. Tradução de Lúcia Granja. In: PAES, José Paulo
(Organização, Nota Liminar e Posfácio). Transverso: coletânea de poemas
traduzidos. Edição bilíngue. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1988. Em inglês:
p. 122; em português: p. 123. (Coleção ‘Viagens da Voz’)
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