Um poema que se inicia com a descrição de fatos naturais, a envolver cenas de perseguição de pássaros predadores, termina com um interessante ‘insight’ do poeta sobre a própria arte de redigir poemas: exatamente quando o vate pousa os olhos sobre um detalhe em particular, auscultando-lhe a mais íntima melodia, seu coração é tomado de assalto por uma incisiva verdade que o leva para bem distante, a pontos nunca dantes suspeitados.
A imagística do poeta irlandês não deixa de ter algo de inusitado, pois emprega deliberadamente associações entre palavras que se depreendem em distintos sentidos, v.g., tudo são luzes e brilhos nos versos de Grennan e, talvez por isso, tenha concatenado o verbo “twinkle” (piscar, cintilar, reluzir) aos derradeiros pios ou gorjeios do tordo (“cheeps”), quando o natural, claro está, seria empregar algum verbo que dissesse respeito ao sentido de audição: eis aí a liberdade de imaginação na criação poética!
J.A.R. – H.C.
Eamon Grennan
(n. 1941)
Detail
I was watching a robin fly after a finch – the
smaller bird
chirping with excitement, the bigger, its breast
blazing, silent
in light-winged earnest chase – when, out of
nowhere
over the chimneys and the shivering front gardens,
flashes a sparrowhawk headlong, a light brown burn
scorching the air from which it simply plucks
like a ripe fruit the stopped robin, whose two or
three
cheeps of terminal surprise twinkle in the silence
closing over the empty street when the birds have
gone
about their own business, and I began to understand
how a poem can happen: you have your eye on a small
elusive detail, pursuing its music, when a terrible
truth
strikes and your heart cries out, being carried
off.
Ataque de um falcão a um pombo
(Adolph Menzel: pintor alemão)
Detail
Estava observando um tordo voar atrás de um
tentilhão
– o pássaro menor
a chilrear de excitação, o maior, com seu flamejante
peito, silencioso
em firme perseguição num ágil bater de asas – quando,
do nada,
sobre as chaminés e os tremulantes jardins dianteiros,
desponta um gavião em ponta-cabeça, uma flama
castanho-clara
abrasando o ar, do qual simplesmente arranca,
como um fruto maduro, o interceptado tordo, cujos
dois ou três
pios de terminal surpresa refulgem no silêncio
que se fecha sobre a rua vazia, quando os pássaros já
terão se
ocupado de sua própria faina; e então comecei a compreender
como um poema pode acontecer: tens o olhar pousado
sobre
um elusivo detalhe, perseguindo sua música, quando
uma terrível verdade
te assalta e teu coração põe-se a gritar, sendo carregado
para longe.
Referência:
GRENNAN, Eamon. Detail. In: ASTLEY,
Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New
York, NY: Miramax Books, 2003. p. 448.
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