Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Cecília Meireles - Mar em Redor

A disposição gráfica das estrofes deste poema diz muito sobre o sentido de um “oceano triste” que se expande à volta da falante e onde as vozes dos “afogados” por ela clamam: são saudades de momentos felizes, desvanecidos na “espuma da vida”, na “areia das horas”, denotadores de certa apreensão com a constrição do mar a despertar-lhe lúgubres sentimentos.

Conchas, espumas, areia, algas e peixes são imagens a que recorre a poetisa para demarcar a fugacidade, a impermanência das formas, como o ir e vir das águas em que imersos todos estamos. E mais que a fugacidade das formas, a fugacidade dos relacionamentos, a fugacidade do espírito, quase que a pairar sobre o não-ser.

J.A.R. – H.C.

 

Cecília Meireles

(1901-1964)

 

Mar em Redor

 

Meus ouvidos estão como as conchas sonoras:

música perdida no meu pensamento,

na espuma da vida, na areia das horas...

 

Esqueceste a sombra do vento.

Por isso, ficaste e partiste,

e há finos deltas de felicidade

abrindo os braços num oceano triste.

 

Soltei meus anéis nos aléns da saudade.

Entre algas e peixes vou flutuando a noite inteira.

Almas de todos os afogados

chamam para diversos lados

esta singular companheira.

 

Em: “Vaga Música” (1942)

 

O terraço de Sainte Adresse

(Claude Monet: pintor francês)


Referência:

MEIRELES, Cecília. Mar em redor. In: __________. Antologia poética. 3. ed. 3. imp. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 2001. p. 34.

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