Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 28 de novembro de 2021

Armindo Trevisan - Imagens

O falante dirige-se aos cidadãos de Chartres, comuna francesa com cerca de quarenta mil habitantes – certamente, bem menos à época da construção da famosa catedral, ao longo dos séculos XII e XIII –, qualificando-os como “gulosos de imagens”, ou melhor, homens e mulheres piedosos que tencionavam legar algo de concreto e deslumbrante aos visitadores da urbe no futuro.

Agora, segundo o ente lírico, não mais prepondera a sede de imortalidade por meio de obras que tenham o condão de atravessar os reveses do tempo, na mais pura tangibilidade – mesmo que devotadas a um ideário transcendente, nobre, divino, como era o caso –, senão a de ideias que tenham viço para perdurar, com esteio numa presumível invulnerabilidade.

J.A.R. – H.C.

 

Armindo Trevisan

(n. 1933)

 

Imagens

 

Éreis gulosos de imagens,

cidadãos de Chartres!

 

Em vossos vitrais

e naves

tínheis dez mil figuras.

Uma figura para cada habitante, senhores,

que adoráveis Deus

com ardente piedade, e à Virgem

consagráveis a amêndoa

de vossos corações.

 

Somos diferentes de vós!

Miramos vossas estátuas

desinteressados dos vossos santos.

Mal vemos o Cristo,

que nos acena do portal ocidental.

Nossa imaginação

é maior do que a vossa?

Nossos olhos,

menos ávidos do que os vossos?

 

Orai por nós, homens do século XIII!

 

Não construiremos mais catedrais

de pedras.

Necessitamos de ideias

que não morram conosco.

 

Em: “A Serpente na Grama” (2001)

 

Catedral de Chartres

(Jean-Baptiste Camille Corot: pintor francês)


Referência:

TREVISAN, Armindo. Imagens. In: __________. Nova antologia poética: 1967-2001. Porto Alegre, RS: Sulina, 2001. p. 200.

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