Veja-se lá que, no
domínio das relações humanas, os opostos dificilmente se atraem – como os
magnetos na Física –, senão os semelhantes. Logo, nenhum espanto pode haver
quando Bukowski – um autêntico “insano” (rs) – afirma que os outros insanos
sempre o amaram!
Fico então a imaginar
se não há um correlato na Psicologia para a Lei da Gravitação Universal,
formulada por Newton. Afinal, temos como mantra para qualquer hora as
persuasivas palavras de Hamlet direcionadas a Horácio: “There are more things
in heaven and earth, Horatio, than are dreamt of in your philosophy”.
J.A.R. – H.C.
Charles Bukowski
(1920-1994)
the insane always loved me
and the
subnormal.
all through grammar
school
junior high
high school
junior college
the unwanted would
attach
themselves to
me.
guys with one
arm
guys with
twitches
guys with speech
defects
guys with white
film
over one eye,
cowards
misanthropes
killers
peep-freaks
and thieves.
and all through
the
factories and on
the
bum
I always drew
the
unwanted. they found
me
right off and
attached
themselves.
they
still do.
in this neighborhood
now
there’s one
who’s
found me.
he pushes around
a
shopping cart
filled with
trash:
broken canes,
shoelaces,
empty potato chip
bags,
milk cartons,
newspapers, penholders ...
“hey, buddy,
how ya doin’?”
I stop and we talk
a
while.
then I say
goodbye
but he still
follows
me
past the beer
parlours and
the
love parlours
...
“keep me informed,
buddy, keep me informed,
I want to know
what’s
going on.”
he’s my new
one.
I’ve never seen
him
talk to anybody
else.
the cart
rattles
along a little
bit
behind me
then something
falls out.
he stops to
pick
it up.
as he does I
walk through
the
front door of
the
green hotel on
the
corner
pass down
through
the hall
come out the
back
door and
there’s a cat
shitting there
in
absolute
delight,
he grins at
me.
A Monomaníaca da Inveja ou
A Hiena de Salpêtrière
(Théodore Géricault: pintor francês)
os insanos sempre me amaram
e os subnormais.
ao longo de todo e ensino
fundamental
ensino médio
faculdade
os rejeitados se
uniam a
mim.
caras com um só braço
caras com tiques
caras com problemas de fala
caras com uma película branca
sobre um dos olhos,
covardes
misantropos
assassinos
tarados
e ladrões.
e em todas
as fábricas e na
vagabundagem
sempre atraí
os rejeitados. eles me encontravam
logo de cara e se grudavam
em mim. continuam
fazendo isso.
aqui na vizinhança há agora
um que me
encontrou.
ela anda por aí empurrando um
carrinho de supermercado
cheio de lixo:
bengalas partidas, cadarços,
sacos vazios de batata frita,
caixas de leite, jornais, canetas...
“ei, parceiro, o que tá fazendo?”
eu paro e conversamos um
pouco.
então eu digo adeus
mas ele continua me
seguindo
para além dos
puteiros e dos
prostíbulos...
“me mantenha informado,
parceiro, me mantenha informado,
quero saber o que está
acontecendo.”
esse é o meu insano do momento.
nunca o vi falar
com mais
ninguém.
o carrinho chacoalha
um pouco atrás
de mim
então alguma coisa
cai.
ele se detém para
juntá-la.
enquanto ele se ocupa disso eu
entro pela porta de um
hotel verde que fica na
esquina
cruzo
o saguão
saio pela porta
dos fundos e
ali há um gato
cagando
absolutamente deliciado,
que me arreganha os
dentes.
Referências:
Em Inglês
BUKOWSKI, Charles.
the insane always loved me . In: __________. Love is a dog from hell: poems,
1974-1977. Santa Rosa, CA: Black Sparrow Press, 1977. p. 140-141.
Em Português
BUKOWSKI, Charles. os
insanos sempre me amaram. In: __________. O amor é um cão dos diabos.
Tradução de Pedro Gonzaga. Porto Alegre, RS: L&PM, 2014. p. 137-138.
(L&PM Pocket; v. 888)
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