Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Nazim Hikmet‎ - Dom Quixote ‎

O belo poema abaixo, de autoria do poeta turco Nazim Hikmet, foi traduzido ao castelhano pelo poeta espanhol Antonio Gamoneda, de onde o verti ao português. Para os que apreciariam vê-lo no original, este endereço na internet o apresenta (“Don Kisot”, 1947), assim como muitos outros poemas de Hikmet.

Ao receber o prêmio Cervantes, em 2006, durante a cerimônia de premiação, em presença do rei de Espanha, Gamoneda manifestou o seu grande apreço e respeito por Hikmet – bastante conhecido como o “comunista (ou revolucionário) romântico” –, tendo recitado o poema em questão a toda a audiência.

J.A.R. – H.C.

Nazım Hikmet
(1902-1963)

Don Quijote

El Caballero de la Eterna Juventud
obedeció, hacia la cincuentena,
a la verdad que latia en su corazón.
Partió una bella manana de julio
para conquistar lo bello, lo verdadero y lo justo.

Delante de él estaba el mundo
con sus gigantes abyectos,
y bajo él estaba Rocinante,
triste y heroico.

Yo sé
que una vez que se cae en esta pasión
y que se tiene un corazón de un peso respetable,
no hay nada que hacer, Don Quijote,
nada que hacer:
hay que embestir a los molinos de viento.

Tú tienes razón:
Dulcinea es la mujer más bella del mundo.
Cierto que habría que gritar esto mismo
en el rostro de los grandes mercaderes;
cierto que ellos se pondrían sobre ti
y te molerían a golpes.

Pero tú eres el invencible Caballero de la Sed.
Tú continuarás viviendo como una llama
en tu áspera armadura de hierro
y Dulcinea será cada dia más hermosa.

En: “Mudanzas” [1961-2003] / “Nazim Hikmet” [1961]

Dom Quixote e Sancho
(Alexandre-Gabriel Decamps: pintor francês)

Dom Quixote

O Cavaleiro da Eterna Juventude
obedeceu, até os cinquenta anos,
à verdade que pulsava em seu coração.
Partiu numa bela manhã de julho
para conquistar o belo, o verdadeiro e o justo.

Diante dele estava o mundo
com seus gigantes abjetos,
e sob ele estava Rocinante,
triste e heroico.

Sei
que uma vez que se cai nessa paixão
e que se tem um coração de um peso respeitável,
não a nada que fazer, Dom Quixote,
nada que fazer:
há que se investir sobre os moinhos de vento.

Tens razão:
Dulcineia é a mulher mais bela do mundo.
Sem dúvida que haverias de gritar isso mesmo
no rosto dos grandes mercadores:
sem dúvida que eles arremeteriam sobre ti
e te esmagariam a golpes.

Porém tu és o invencível Cavaleiro Sedento.
Continuarás vivendo como uma chama
em tua áspera armadura de ferro
e Dulcineia será cada dia mais formosa.

Em: “Mudanças” [1961-2003] / “Nazim Hikmet” [1961]

Antonio Gamoneda
(n. 1931)

Referência:

GAMONEDA, Antonio. Don Quijote. In: __________. Poesía reunida: 1947-2004. Barcelona, ES: Galaxia Gutenberg; Círculo de Lectores, 2010. p. 525-526.

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