O poeta francês
lembra-se com nostalgia do tempo em que, decerto, conheceu Mers-el-Kébir,
cidade portuária na Argélia, colônia da França até meados de 1962: suas
palavras são eivadas de um tom romântico, a associar memórias com sensações,
tudo permeado por um sentido de mobilidade em suas experiências.
Nota-se, ademais, a
dominância do musical nessa aventura lírica do poeta, que, por sinal, também se
espraia pelo metafísico, pelo sutil, pelo íntimo, pelo exótico, pelo malfadado,
levando a tornar-se um destino que espelha as facetas não contemporâneas de uma
“pomba ferida” e de um “momento passageiro no entardecer africano”.
J.A.R. – H.C.
Valery Larbaud
(1881-1957)
Mers-el-Kébir
J’aime ce village, où
sont les orangers,
Sans se voir, deux
jeunes filles se disent leurs amours
Sur deux infiniment
plaintives mandolines.
Et j’aime cette
auberge, car les servantes, dans la cour,
Chantent dans la
douceur du soir cet air si doux
De la “Paloma”.
Écoutez la paloma qui bat de l’aile…
Désir de mon village
à moi, si loin; nostalgie
Des antipodes, de la
grande avenue des volcans immenses;
Ô larmes qui montez,
lavez tous mes péchés!
Je suis la paloma
meurtrie, je suis les orangers,
Et je suis cet
instant qui passe et le soir africain;
Mon âme et les voix
unies des mandolines.
Mers-el-Kébir
(Eugène Delacroix: pintor francês)
Mers-el-Kébir
Amo esta aldeia em
que, sob laranjeiras,
Sem se verem, duas
moças se contam seus amores
Em dois infinitamente
queixosos bandolins.
E amo este albergue,
porque as criadas no pátio
Cantam na doçura da
tarde essa ária tão doce
Da “Paloma”. Escutai
a paloma que bate asas...
Desejo da minha
própria aldeia, tão longe; nostalgia
Dos antípodas, da
grande avenida dos vulcões imensos;
Ó lágrimas que subis,
lavai todos os meus pecados,
Eu sou a dolorida
Paloma, sou as laranjeiras,
Sou esse instante que
passa e o entardecer africano;
Minha alma e as vozes
unidas dos bandolins.
Referência:
LARBAUD, Valery.
Mers-el-Kébir / Mers-el-Kébir. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia traduzida. Organização e notas
de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. Introdução de Júlio Castañon
Guimarães. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. Em francês: p. 212; em português:
p. 213. (Coleção “Ás de colete”; 20)
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