Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Valery Larbaud - Mers-el-Kébir ‎

O poeta francês lembra-se com nostalgia do tempo em que, decerto, conheceu Mers-el-Kébir, cidade portuária na Argélia, colônia da França até meados de 1962: suas palavras são eivadas de um tom romântico, a associar memórias com sensações, tudo permeado por um sentido de mobilidade em suas experiências.

 

Nota-se, ademais, a dominância do musical nessa aventura lírica do poeta, que, por sinal, também se espraia pelo metafísico, pelo sutil, pelo íntimo, pelo exótico, pelo malfadado, levando a tornar-se um destino que espelha as facetas não contemporâneas de uma “pomba ferida” e de um “momento passageiro no entardecer africano”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Valery Larbaud

(1881-1957)

 

Mers-el-Kébir

 

J’aime ce village, où sont les orangers,

Sans se voir, deux jeunes filles se disent leurs amours

Sur deux infiniment plaintives mandolines.

Et j’aime cette auberge, car les servantes, dans la cour,

Chantent dans la douceur du soir cet air si doux

De la “Paloma”. Écoutez la paloma qui bat de l’aile…

Désir de mon village à moi, si loin; nostalgie

Des antipodes, de la grande avenue des volcans immenses;

Ô larmes qui montez, lavez tous mes péchés!

Je suis la paloma meurtrie, je suis les orangers,

Et je suis cet instant qui passe et le soir africain;

Mon âme et les voix unies des mandolines.

 

Mers-el-Kébir

 (Eugène Delacroix: pintor francês)

 

Mers-el-Kébir

 

Amo esta aldeia em que, sob laranjeiras,

Sem se verem, duas moças se contam seus amores

Em dois infinitamente queixosos bandolins.

E amo este albergue, porque as criadas no pátio

Cantam na doçura da tarde essa ária tão doce

Da “Paloma”. Escutai a paloma que bate asas...

Desejo da minha própria aldeia, tão longe; nostalgia

Dos antípodas, da grande avenida dos vulcões imensos;

Ó lágrimas que subis, lavai todos os meus pecados,

Eu sou a dolorida Paloma, sou as laranjeiras,

Sou esse instante que passa e o entardecer africano;

Minha alma e as vozes unidas dos bandolins.

 

Referência:

 

LARBAUD, Valery. Mers-el-Kébir / Mers-el-Kébir. Tradução de Carlos Drummond de Andrade. In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia traduzida. Organização e notas de Augusto Massi e Júlio Castañon Guimarães. Introdução de Júlio Castañon Guimarães. São Paulo, SP: Cosac Naify, 2011. Em francês: p. 212; em português: p. 213. (Coleção “Ás de colete”; 20)

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