Pode lá não ser tão
apropriado como tema de um poema, mas a forma como o poeta a aborda, em sua
importância orgânica e grau de associações, permite chegar-se a um resultado
pleno de sentidos, até mesmo no ponto em que se tem a mediação da larva no
processo de decomposição dos seres vivos, em especial, dos humanos, rumo às
suas idiossincrasias metafísicas.
Tem a larva um poder
assemelhado ao de um mestre, um artífice, que tomando a matéria-prima
necessária à lida, transforma-a numa entidade com outro aspecto, ou seja, a
larva está vocacionada a criar novas vidas com os nutrientes a que reduz a
matéria orgânica anterior. Assim ponderando, até que a visão primeira que se
tem de uma larva, eivada de repugnância ou aversão, acaba por se atenuar!
J.A.R. – H.C.
Yusef Komunyakaa
(n. 1947)
Ode to the Maggot
Brother of the blowfly
& godhead, you work magic
Over battlefields,
In slabs of bad pork
& flophouses. Yes, you
Go to the root of all things.
You are sound & mathematical.
Jesus, Christ, you’re merciless
With the truth. Ontological & lustrous,
You cast spells on beggars & kings
Behind the stone door of Caesar’s tomb
Or split trench in a field of ragweed.
No decree or creed can outlaw you
As you take every living thing apart. Little
Master of earth, no one gets to heaven
Without going through you first.
Figura Fantástica
(Johfra Bosschart: artista holandês)
Ode à Larva
Irmã da mosca saprófaga
e da divindade, empregas a magia
sobre os campos de batalha,
em postas de porco em decomposição
e em albergues mal-arranjados. Sim, vais
ter à raiz de todas as coisas.
És forte e matemática.
Jesus Cristo, como és impiedosa
com a verdade. Ontológica e lustrosa,
lanças feitiços aos mendigos e reis
por trás da pétrea porta da tumba de César
ou delimitas trincheiras num campo de ambrósia.
Nenhum decreto ou credo é capaz de te banir
enquanto destroças um ser vivo. Pequena
artífice da terra, ninguém chega ao céu
sem antes passar por ti.
Referência:
KOMUNYAKAA, Yusef.
Ode to the maggot. In: __________. Talking dirty to the gods. New
York, NY: Farrar, Straus and Giroux, 2000. p. 10.
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