Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 23 de julho de 2018

Yusef Komunyakaa - Ode à Larva

Pode lá não ser tão apropriado como tema de um poema, mas a forma como o poeta a aborda, em sua importância orgânica e grau de associações, permite chegar-se a um resultado pleno de sentidos, até mesmo no ponto em que se tem a mediação da larva no processo de decomposição dos seres vivos, em especial, dos humanos, rumo às suas idiossincrasias metafísicas.

 

Tem a larva um poder assemelhado ao de um mestre, um artífice, que tomando a matéria-prima necessária à lida, transforma-a numa entidade com outro aspecto, ou seja, a larva está vocacionada a criar novas vidas com os nutrientes a que reduz a matéria orgânica anterior. Assim ponderando, até que a visão primeira que se tem de uma larva, eivada de repugnância ou aversão, acaba por se atenuar!

 

J.A.R. – H.C.

 

Yusef Komunyakaa

(n. 1947)

 

Ode to the Maggot

 

Brother of the blowfly

& godhead, you work magic

Over battlefields,

In slabs of bad pork

 

& flophouses. Yes, you

Go to the root of all things.

You are sound & mathematical.

Jesus, Christ, you’re merciless

 

With the truth. Ontological & lustrous,

You cast spells on beggars & kings

Behind the stone door of Caesar’s tomb

Or split trench in a field of ragweed.

 

No decree or creed can outlaw you

As you take every living thing apart. Little

Master of earth, no one gets to heaven

Without going through you first.

 

Figura Fantástica

(Johfra Bosschart: artista holandês)

 

Ode à Larva

 

Irmã da mosca saprófaga

e da divindade, empregas a magia

sobre os campos de batalha,

em postas de porco em decomposição

 

e em albergues mal-arranjados. Sim, vais

ter à raiz de todas as coisas.

És forte e matemática.

Jesus Cristo, como és impiedosa

 

com a verdade. Ontológica e lustrosa,

lanças feitiços aos mendigos e reis

por trás da pétrea porta da tumba de César

ou delimitas trincheiras num campo de ambrósia.

 

Nenhum decreto ou credo é capaz de te banir

enquanto destroças um ser vivo. Pequena

artífice da terra, ninguém chega ao céu

sem antes passar por ti.

 

Referência:

 

KOMUNYAKAA, Yusef. Ode to the maggot. In: __________. Talking dirty to the gods. New York, NY: Farrar, Straus and Giroux, 2000. p. 10.

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