Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 21 de julho de 2018

Weliton Carvalho - Testamento da Poesia ‎

O poeta, que também é juiz de Direito no Maranhão, revela o legado da poesia, no momento mesmo em que transita do sonho para a morte, ela que não é matéria, embora tenha o dom de transfigurá-la em epifania, por meio de um processo de re(criação) não aderente à Lei de Lavoisier (rs), pois há coisas que, em meio a tantas outras, simplesmente desaparecem...

 

O construto da poesia é uma parede-fantasma, enquanto representação da realidade que nos circunda – no fundo, uma outra aparência filtrada pelas idiossincrasias de quem a apreende –, erigida tijolo a tijolo, mas que, uma vez recolhida em palavras gravadas nas páginas dos livros, galgam o ignoto paraíso, apenas vez por outra frequentado por mãos ainda ávidas de sonho.

 

J.A.R. – H.C.

 

Weliton Carvalho

(n. 1965)

 

Testamento da Poesia

 

Deixo com vocês o sopro

que nada em mim é matéria

[tudo está aqui transfigurado]

 

As coisas, todas elas, se dissolvem

para se fundir em tantas outras

ou desaparecerem subitamente.

 

Deixo as palavras, fantasmas

da realidade ainda aparente:

um tijolo constrói a parede

para nunca mais ser notado.

 

Deixo o sonho para suportar a morte.

 

Em: “Tempo em Conserva”

 

Desmaterialização Maneirista

(Leonor Ruiz Dubrovin: artista espanhola)

 

Referência:

 

CARVALHO, Weliton. Testamento da poesia. In: __________. Geometria do lúdico: obra poética reunida. São Luís, MA: Sotaque Norte, 2008. p. 251.

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