O poeta, que também é
juiz de Direito no Maranhão, revela o legado da poesia, no momento mesmo em que
transita do sonho para a morte, ela que não é matéria, embora tenha o dom de
transfigurá-la em epifania, por meio de um processo de re(criação) não aderente
à Lei de Lavoisier (rs), pois há coisas que, em meio a tantas outras,
simplesmente desaparecem...
O construto da poesia
é uma parede-fantasma, enquanto representação da realidade que nos circunda –
no fundo, uma outra aparência filtrada pelas idiossincrasias de quem a apreende
–, erigida tijolo a tijolo, mas que, uma vez recolhida em palavras gravadas nas
páginas dos livros, galgam o ignoto paraíso, apenas vez por outra frequentado
por mãos ainda ávidas de sonho.
J.A.R. – H.C.
Weliton Carvalho
(n. 1965)
Testamento da Poesia
Deixo com vocês o sopro
que nada em mim é matéria
[tudo está aqui transfigurado]
As coisas, todas elas, se dissolvem
para se fundir em tantas outras
ou desaparecerem subitamente.
Deixo as palavras, fantasmas
da realidade ainda aparente:
um tijolo constrói a parede
para nunca mais ser notado.
Deixo o sonho para suportar a morte.
Em: “Tempo em Conserva”
Desmaterialização Maneirista
(Leonor Ruiz Dubrovin: artista espanhola)
Referência:
CARVALHO, Weliton.
Testamento da poesia. In: __________. Geometria do lúdico: obra
poética reunida. São Luís, MA: Sotaque Norte, 2008. p. 251.
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