No programa
expressionista formulado por Klemm persistem as dúvidas sobre os grandes
segredos da poesia, pois o poeta continua a lidar com “lacunas fatais”, numa
forma de carência e inadequação que, ao mesmo tempo, pode significar abertura a
todas as experiências, inclusive alucinatórias, com perspectiva de acesso (ou
não) à “morada dos deuses”.
É possível que, desse
modo, apesar de todo o esforço do poeta, o sucesso resulte baldado. Com efeito,
Klemm parece não ter seguido nenhum movimento ou tendência literária, embora se
possa inferir de poemas como o desta postagem que os seus propósitos se
alinham, de uma forma ou de outra, às associações surrealistas, com fundamento
numa imagem textual serena, sóbria e, por que não dizer, lacônica.
J.A.R. – H.C.
Wilhelm Klemm
(1881-1968)
Programm
Wir wollen gar keine
Poesie,
Wir wollen
Taschenzauberkunststücke,
Wir suchen im Dasein
eine fatale Lücke
Zu stopfen. Trotz
krampfhafter Mühe gelingt es nie.
Aber was wißt ihr
andern von den heimlichen Elevationen,
Von dem selig
hysterischen Schluchzen der Kehle,
Wenn wir die erste
Stufe, über deren Äonen –
haften. Folge die
Götter wohnen,
Küssen, ganz verzehrt
von dem Haschisch innrer Seele?
Um Questão de Gosto
(Mark Kostabi: artista norte-americano)
Programa
Não queremos poesia,
Queremos mágicas,
artifícios,
Procuramos tapar na
existência fatais vazios
E apesar de imenso
esforço, uma atrofia.
Mas o que sabem vocês outros da secreta elevação,
Dos sagrados e
histéricos soluços da garganta a chorar,
Quando, consumidos
pelo haxixe da alma em imersão,
Beijamos o primeiro
degrau, para além de cujo limiar
Os deuses moram?
Referência:
KLEMM, Wilhelm.
Programm / Programa. Tradução de Claudia Cavalcanti. In: BECHER, Johannes R. et
al. Poesia expressionista alemã: uma antologia. Organização e
tradução de Claudia Cavalcanti. Edição bilíngue ilustrada. São Paulo, SP:
Estação Liberdade, 2000. Em alemão: p. 126; em português: p. 127.
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