Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 8 de julho de 2018

Charles Wright - A Geração Silenciosa ‎

A memória é pervasiva na poesia de Wright e, neste poema, evidencia-se sua aversão ao modo como as pessoas são capazes de esquecer facilmente: parte ele de um título que designa a geração nascida entre as metades dos anos 20 e 30 – a geração do próprio autor –, precedendo a famosa geração dos “baby boomers”, nascida entre o fim da 2GM e a metade dos anos 60, da qual se diferenciava por parecer mais conservadora e silenciosa.

 

Há um certo pesar nas palavras do poeta, algo como se o trânsito sobre a terra, necessariamente, houvesse de ressoar as prédicas do Eclesiastes – mormente em razão de a morte trazer consigo o olvido: os ventos que monitoram os vestígios dos dias, diz-nos, levam nossas pegadas para bem longe.

 

J.A.R. – H.C.

 

Charles Wright

(n. 1935)

 

The Silent Generation

 

Afternoons in the back yard, our lives like photographs

Yellowing elsewhere,

in somebody else’s album,

In secret, January south winds

Ungathering easily through the black limbs of the fruit trees.

 

What was it we never had to say?

Who can remember now –

Something about the world’s wrongs,

Something about the way we shuddered them off like rain

In an open field,

convinced that lightning would not strike.

 

We’re arm in arm with regret, now left foot, now right foot.

We give the devil his due.

We walk up and down in the earth,

we take our flesh in our teeth.

When we die, we die. The wind blows away our footprints.

 

A Rendeira

(Johannes Vermeer: pintor holandês)

 

A Geração Silenciosa

 

As tardes no quintal, nossas vidas como fotografias

Amarelecendo em outro lugar,

no álbum de outra pessoa,

Em segredo, ventos sul de janeiro

Espargindo-se facilmente entre os ramos negros das árvores

frutíferas.

 

O que foi que nunca tivemos que dizer?

Quem poderia agora recordar –

Algo sobre os erros do mundo,

Algo sobre como não nos importunamos com eles como se

estivéssemos sob a chuva

Num campo aberto,

convencidos de que os raios não nos atingiriam.


Estamos de braços dados com o lamento, agora

com um pé, e logo com o outro.

Nós liberamos a Satã o seu tributo.

Caminhamos para cima e para baixo na terra,

levamos nossa carne entre os dentes.

Quando morremos, morremos. O vento sopra para longe

nossas pegadas.

 

Referência:

 

WRIGHT, Charles. The silent generation. In: POULIN JR., A. (Ed.). Contemporary american poetry. 6th. Ed. Boston, MA: Houghton Mifflin Company, 1996. p. 632.

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