A memória é pervasiva
na poesia de Wright e, neste poema, evidencia-se sua aversão ao modo como as
pessoas são capazes de esquecer facilmente: parte ele de um título que designa
a geração nascida entre as metades dos anos 20 e 30 – a geração do próprio
autor –, precedendo a famosa geração dos “baby boomers”, nascida entre o fim da
2GM e a metade dos anos 60, da qual se diferenciava por parecer mais
conservadora e silenciosa.
Há um certo pesar nas
palavras do poeta, algo como se o trânsito sobre a terra, necessariamente,
houvesse de ressoar as prédicas do Eclesiastes – mormente em razão de a morte
trazer consigo o olvido: os ventos que monitoram os vestígios dos dias, diz-nos,
levam nossas pegadas para bem longe.
J.A.R. – H.C.
Charles Wright
(n. 1935)
The Silent Generation
Afternoons in the
back yard, our lives like photographs
Yellowing elsewhere,
in somebody else’s
album,
In secret, January
south winds
Ungathering easily
through the black limbs of the fruit trees.
What was it we never
had to say?
Who can remember now
–
Something about the
world’s wrongs,
Something about the
way we shuddered them off like rain
In an open field,
convinced that
lightning would not strike.
We’re arm in arm with
regret, now left foot, now right foot.
We give the devil his
due.
We walk up and down
in the earth,
we take our flesh in
our teeth.
When we die, we die.
The wind blows away our footprints.
A Rendeira
(Johannes Vermeer: pintor holandês)
A Geração Silenciosa
As tardes no quintal,
nossas vidas como fotografias
Amarelecendo em outro
lugar,
no álbum de outra
pessoa,
Em segredo, ventos
sul de janeiro
Espargindo-se
facilmente entre os ramos negros das árvores
frutíferas.
O que foi que nunca
tivemos que dizer?
Quem poderia agora
recordar –
Algo sobre os erros
do mundo,
Algo sobre como não
nos importunamos com eles como se
estivéssemos sob a
chuva
Num campo aberto,
convencidos de que os
raios não nos atingiriam.
Estamos de braços dados com o lamento, agora
com um pé, e logo com
o outro.
Nós liberamos a Satã
o seu tributo.
Caminhamos para cima
e para baixo na terra,
levamos nossa carne
entre os dentes.
Quando morremos,
morremos. O vento sopra para longe
nossas pegadas.
Referência:
WRIGHT, Charles. The
silent generation. In: POULIN JR., A. (Ed.). Contemporary american
poetry. 6th. Ed. Boston, MA: Houghton Mifflin Company, 1996. p. 632.
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