As passagens do Canto
IV, traduzidas com espero por Augusto de Campos e abaixo transcritas,
concentram-se em descrever o passado glorioso de Veneza, quer no âmbito
econômico quer no cultural, neste caso com direito à menção a grandes nomes da
literatura e do teatro – Shakespeare aí incluso, ‘of course’, haja vista que
algumas peças do bardo têm-na como cenário.
Em trânsito pela
cidade, Byron bem percebeu o seu estado decadente – isso já em meados de 1817
–, extraindo daí melancólico ensinamento: mesmo as mais poderosas instituições
humanas não ficam a salvo do efêmero, tudo se diluindo com o passar dos
séculos, embora remanesçam alguns vestígios na arquitetura, nos monumentos, nas
obras documentais.
‘Décadence sans
élégance’! (rs)
J.A.R. – H.C.
George Gordon Byron
(1788-1824)
Retrato de Thomas Sully
From Canto IV
I
I stood in Venice, on
the Bridge of Sighs,
A palace and a prison
on each hand:
I saw from out the
wave her structures rise
As from the stroke of
the enchanter’s wand:
A thousand years
their cloudy wings expand
Around me, and a
dying Glory smiles
O’er the far times,
when many a subject land
Looked to the wingéd
Lion’s marble piles,
Where Venice sate in state, throned on her hundred isles!
XI
The spouseless
Adriatic mourns her lord;
And, annual marriage
now no more renewed,
The Bucentaur lies
rotting unrestored,
Neglected garment of
her widowhood!
St. Mark yet sees his
lion where he stood
Stand, but in mockery
of his withered power,
Over the proud place
where an Emperor sued,
And monarchs gazed
and envied in the hour
When Venice was a queen with an unequalled dower.
XV
Statues of glass –
all shivered – the long file
Of her dead doges are
declined to dust;
But where they dwelt,
the vast and sumptuous pile
Bespeaks the pageant
of their splendid trust;
Their sceptre broken,
and their sword in rust,
Have yielded to the
stranger: empty halls,
Thin streets, and
foreign aspects, such as must
Too oft remind her
who and what enthrals,
Have flung a desolate cloud o’er Venice’ lovely walls.
XVIII
I loved her from my
boyhood: she to me
Was as a fairy city
of the heart,
Rising like
water-columns from the sea,
Of joy the sojourn,
and of wealth the mart
And Otway, Radcliffe,
Schiller, Shakspeare’s art,
Had stamped her image
in me, and e’en so,
Although I found her
thus, we did not part,
Perchance e’en dearer
in her day of woe,
Than when she was a boast, a marvel, and a show.
Veneza
(Thomas Kinkade: pintor norte-americano)
Do Canto IV
I
Veneza. Estou na
Ponte dos Suspiros.
O palácio e a prisão,
de canto a canto:
Das ondas dos canais
vejo subir os
Antigos muros como
por encanto:
Mil anos passam na
memória enquanto
Em suas asas de névoa
eu vejo as trilhas
Dos povos que vieram
sob o manto
Do Leão alado, e as
muitas maravilhas
Onde Veneza está em seu trono de cem ilhas!
XI
O Adriático chora por
seu doge
E o matrimônio já não
comemora.
O Buccentoro jaz – o
tempo foge –
Deteriorado e sem o
ouro de outrora!
São Marcos não revê o
leão agora
Como antes, só o
escárnio da memória
Do poder imperial,
quando, de fora,
Monarcas invejavam
sua história
E Veneza reinava em toda a sua glória.
XV
Cacos de estátuas
vítreas – a fileira
Dos doges mortos em
pó se desfaz.
Mas a cidade se ergue
da poeira
Na pompa dos palácios
senhoriais.
Cetros rotos a
espadas e punhais
De estranhos
entregaram a grandeza:
Ruas estreitas,
escuros canais,
Salas vazias da antiga
beleza,
Lançaram uma nuvem gris sobre Veneza.
XVIII
Desde cedo eu a pus
em meu altar,
Cidade etérea que se
vê surgir
Como em colunas de
água sobre o mar.
Sítio do amor e sede
do mercar,
Que Otway, Radcliffe,
Schiller, Shakespeare
Celebrizaram. Mas
ainda a dor
De agora não nos pode
dividir,
Talvez mais bela no
seu desfavor
Do que quando era só poder, glória e fulgor.
Referência:
BYRON, George Gordon.
Childe Harold’s pilgrimage: a romaunt; canto IV (excertos). Tradução de Augusto
de Campos. In: CAMPOS, Augusto de (Seleção e Tradução). Byron e
Keats: entreversos. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2009. Em inglês:
p. 24 e 26; em português: p. 25 e 27.
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..depois de ter lido 'Marca d'água', de Joseph Brodsky, algo como um solavanco..
ResponderExcluirPrezado Lyra: coloquei a obra de Brodsky no meu roteiro de leituras. Observei, contudo, que já se encontra indisponível, no Brasil, a tradução da Cosac & Naify. Vou procurá-la por outros meios. Muito obrigado pela indicação. Um abraço. J. A. Rodrigues
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