Num discurso bem engraçado, a fazer cotejo com
as planejadas estruturas humanas de engenharia e arquitetura, Barbara Guest nos
oferece o seu olhar sobre a morada dos animais que habitam as pradarias, que,
por simples instinto da natureza, são capazes de dar contorno e prover as suas
necessidades de abrigo.
O derradeiro parágrafo do poema de Guest, em
meio a um expressivo jogo de palavras, nos conclama a reparar no quanto o
aspecto e a forma dos obstinados apriscos dos animais se parecem com a da parte
superior do corpo feminino, matéria que daria um bom mote para pinturas com
atributos surrealistas.
J.A.R. – H.C.
Barbara Guest
(1920-2006)
Prairie Houses
Unreasonable lenses refract the
sensitive rabbit holes, mole dwellings and snake
climes where twist burrow and sneeze
a native species
into houses
corresponding to hemispheric requests
of flatness
euphemistically, sentimentally
termed prairie.
On the earth exerting a wilful pressure
something like a stethoscope against the breast
only permanent.
Selective engineering architectural submissiveness
and rendering of necessity in regard to height,
eschewment of climate exposure, elemental
understandings,
constructive adjustments to vale and storm
historical reconstruction of early earthworks
and admiration
for later even oriental modelling
for a glimpse of baronial burdening
we see it in the rafters and the staircase
heaviness
a surprise yet acting as ballast surely
the heavens strike hard on prairies.
Regard its hard-mouthed houses with their
robust nipples the gossamer hair.
(1976)
Pradaria Cayler –
Iowa/EUA
(Troy Thomas: pintor
norte-americano)
Moradas da Pradaria
Lentes possantes refratam as
delicadas tocas do coelho, as moradas da
toupeira e a serpente
os ambientes em que se enroscam, enfurnam e
espirram
as espécies nativas
em moradas
que condizem com as exigências hemisféricas
da planura
eufemisticamente, sentimentalmente
denominada pradaria.
Elas exercem sobre a terra uma pressão
deliberada
algo assim como um estetoscópio contra o peito
só que de modo permanente.
Há submissão seletiva à engenharia arquitetônica
e à representação da necessidade no que diz
respeito à altura,
abrindo-se mão da exposição climática,
concepções elementares,
ajustes construtivos voltados ao vale e à
intempérie
reconstrução histórica de movimentos iniciais do
terreno
e admiração
por modelo tardio até mesmo oriental
para se ter uma ideia da considerável sobrecarga
vemo-la nas vigas e no peso da escada
uma surpresa que seguramente ainda atua como
estiva
os céus fustigam com força as pradarias.
Atentem para as moradas com rijas bocas
mamilos robustos e filandrosos cabelos.
(1976)
Referência:
GUEST. Barbara. Prairie houses. In: HOOVER, Paul
(Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 64.
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