Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 5 de julho de 2018

Barbara Guest - Moradas da Pradaria

Num discurso bem engraçado, a fazer cotejo com as planejadas estruturas humanas de engenharia e arquitetura, Barbara Guest nos oferece o seu olhar sobre a morada dos animais que habitam as pradarias, que, por simples instinto da natureza, são capazes de dar contorno e prover as suas necessidades de abrigo.

 

O derradeiro parágrafo do poema de Guest, em meio a um expressivo jogo de palavras, nos conclama a reparar no quanto o aspecto e a forma dos obstinados apriscos dos animais se parecem com a da parte superior do corpo feminino, matéria que daria um bom mote para pinturas com atributos surrealistas.

 

J.A.R. – H.C.

 

Barbara Guest

(1920-2006)

 

Prairie Houses

 

Unreasonable lenses refract the

sensitive rabbit holes, mole dwellings and snake

climes where twist burrow and sneeze

a native species

 

into houses

 

corresponding to hemispheric requests

of flatness

 

euphemistically, sentimentally

termed prairie.

 

On the earth exerting a wilful pressure

 

something like a stethoscope against the breast

 

only permanent.

 

Selective engineering architectural submissiveness

and rendering of necessity in regard to height,

eschewment of climate exposure, elemental understandings,

constructive adjustments to vale and storm

 

historical reconstruction of early earthworks

 

and admiration

 

for later even oriental modelling

 

for a glimpse of baronial burdening

we see it in the rafters and the staircase heaviness

a surprise yet acting as ballast surely

 

the heavens strike hard on prairies.

 

Regard its hard-mouthed houses with their

robust nipples the gossamer hair.

 

(1976)

 

Pradaria Cayler – Iowa/EUA

(Troy Thomas: pintor norte-americano)

 

Moradas da Pradaria

 

Lentes possantes refratam as

delicadas tocas do coelho, as moradas da toupeira e a serpente

os ambientes em que se enroscam, enfurnam e espirram

as espécies nativas

 

em moradas

 

que condizem com as exigências hemisféricas

da planura

 

eufemisticamente, sentimentalmente

denominada pradaria.

 

Elas exercem sobre a terra uma pressão deliberada

 

algo assim como um estetoscópio contra o peito

 

só que de modo permanente.

 

Há submissão seletiva à engenharia arquitetônica

e à representação da necessidade no que diz respeito à altura,

abrindo-se mão da exposição climática, concepções elementares,

ajustes construtivos voltados ao vale e à intempérie

 

reconstrução histórica de movimentos iniciais do terreno

 

e admiração

 

por modelo tardio até mesmo oriental

 

para se ter uma ideia da considerável sobrecarga

vemo-la nas vigas e no peso da escada

uma surpresa que seguramente ainda atua como estiva

 

os céus fustigam com força as pradarias.

 

Atentem para as moradas com rijas bocas

mamilos robustos e filandrosos cabelos.

 

(1976)

 

Referência:

 

GUEST. Barbara. Prairie houses. In: HOOVER, Paul (Ed.). A postmodern american poetry: a norton anthology. New York, NY: W. W. Norton & Company Inc., 1994. p. 64.

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