Até onde vai a
imaginação humana! A poetisa especula como os seus pais fizeram amor num quarto
com paredes abarrotadas de rosas, num ‘loft’ em nível imediatamente acima ao da
morada do pintor Mark Rothko, norte-americano de origem letã e judaica, que as
teria pintado, o qual, por sua vez, pelo que pude constatar, não era tão
aficionado assim por rosas...
No fundo, Lynn
pretende apenas manifestar o poder de sugestão que a arte detém, fazendo
ressuscitar à nossa presença mental mesmo aqueles que já se foram e que, de uma
forma ou de outra, fazem parte do histórico familiar, resguardando-os, dessa
maneira, dos efeitos vorazes do tempo.
J.A.R. – H.C.
Lynn Emanuel
(n. 1949)
The Sleeping
I have imagined all this:
In 1940 my parents wer in love
And living in the loft on West 10th
Above Mark Rothko who painted cabbage roses
On their bedroom walls the night they got married.
I can guess why he did it.
My mother’s hair was the color of yellow apples
And she wore a velvet hat with her pajamas.
I was not born yet. I was remote as starlight.
It is hard for me to imagine that
My parents made love in a roomful of roses
And I wasn’t there.
But now I am. My mother is blushing.
This is the wonderful thing about art.
It can bring back the dead. It can wake the sleeping
As it might have late that night
When my father and mother made love above Rothko
Who lay in the dark thinking Roses, Roses, Roses.
Rosas num Vaso
(Robert Williams: pintor inglês)
Os Que Dormem
Estive a imaginar tudo isto:
Em 1940 meus pais estavam enamorados
E viviam num sótão em West 10th
Num piso acima do de Mark Rothko, que pintou rosas
de cem pétalas
Nas paredes do quarto deles na noite em que se casaram.
Posso adivinhar porque assim procedeu.
O cabelo de minha mãe era da cor de maçãs maturadas
E ela usava um chapéu de veludo junto com seu pijama.
Eu ainda não havia nascido. Era tão remota quanto a luz
das estrelas.
Custa-me imaginar que
Meus pais tenham feito amor num quarto cheio de rosas
E eu lá não estivesse.
Mas agora estou presente. Minha mãe se ruboriza.
Isso é o maravilhoso da arte.
É capaz de trazer de volta os mortos. Pode despertar os
que dormem,
Assim como talvez tenha ocorrido já tarde naquela noite,
Quando meus pais fizeram amor acima de Rothko,
Que deitado no escuro estava pensando em
Rosas, Rosas, Rosas.
Referência:
EMANUEL, Lynn. The
sleeping. In: __________. CHRISTOPHER, Nicholas (Ed.). Walk on the wild
side: urban american poetry since 1975. New York, NY: Collier Books,
1994. p. 55.
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