Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 29 de julho de 2018

Lynn Emanuel - Os Que Dormem

Até onde vai a imaginação humana! A poetisa especula como os seus pais fizeram amor num quarto com paredes abarrotadas de rosas, num ‘loft’ em nível imediatamente acima ao da morada do pintor Mark Rothko, norte-americano de origem letã e judaica, que as teria pintado, o qual, por sua vez, pelo que pude constatar, não era tão aficionado assim por rosas...

 

No fundo, Lynn pretende apenas manifestar o poder de sugestão que a arte detém, fazendo ressuscitar à nossa presença mental mesmo aqueles que já se foram e que, de uma forma ou de outra, fazem parte do histórico familiar, resguardando-os, dessa maneira, dos efeitos vorazes do tempo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Lynn Emanuel

(n. 1949)

 

The Sleeping

 

I have imagined all this:

In 1940 my parents wer in love

And living in the loft on West 10th

Above Mark Rothko who painted cabbage roses

On their bedroom walls the night they got married.

 

I can guess why he did it.

My mother’s hair was the color of yellow apples

And she wore a velvet hat with her pajamas.

 

I was not born yet. I was remote as starlight.

It is hard for me to imagine that

My parents made love in a roomful of roses

And I wasn’t there.

 

But now I am. My mother is blushing.

This is the wonderful thing about art.

It can bring back the dead. It can wake the sleeping

As it might have late that night

When my father and mother made love above Rothko

Who lay in the dark thinking Roses, Roses, Roses.

 

Rosas num Vaso

(Robert Williams: pintor inglês)

 

Os Que Dormem

 

Estive a imaginar tudo isto:

Em 1940 meus pais estavam enamorados

E viviam num sótão em West 10th

Num piso acima do de Mark Rothko, que pintou rosas

de cem pétalas

Nas paredes do quarto deles na noite em que se casaram.

 

Posso adivinhar porque assim procedeu.

O cabelo de minha mãe era da cor de maçãs maturadas

E ela usava um chapéu de veludo junto com seu pijama.

 

Eu ainda não havia nascido. Era tão remota quanto a luz

das estrelas.

Custa-me imaginar que

Meus pais tenham feito amor num quarto cheio de rosas

E eu lá não estivesse.

 

Mas agora estou presente. Minha mãe se ruboriza.

Isso é o maravilhoso da arte.

É capaz de trazer de volta os mortos. Pode despertar os

que dormem,

Assim como talvez tenha ocorrido já tarde naquela noite,

Quando meus pais fizeram amor acima de Rothko,

Que deitado no escuro estava pensando em

Rosas, Rosas, Rosas.

 

Referência:

 

EMANUEL, Lynn. The sleeping. In: __________. CHRISTOPHER, Nicholas (Ed.). Walk on the wild side: urban american poetry since 1975. New York, NY: Collier Books, 1994. p. 55.

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