O poeta dirige-se a si mesmo, como se
estivesse fatigado das lidas da vida, confrontando estágios pelos quais passou
com o da situação atual, em que já se encontra sem dinâmica, prenunciando-lhe a
morte não tão distante: eis o componente onipresente do tempo que alimenta o
assombro da poesia do francês!
O tempo é uma espécie de vampiro que se
alimenta da energia vital do homem, jogando-o não só no abismo carnal, quanto –
e principalmente – no abismo da ação, dos sonhos, das memórias, do desejo, da
compunção e até mesmo da beleza. Quem haverá de salvá-lo dessa vertigem
existencial?
J.A.R. – H.C.
Le goût du néant
Morne esprit, autrefois amoureux de la lutte,
L’Espoir, dont l’éperon attisait ton ardeur,
Ne veut plus t’enfourcher! Couche-toi sans pudeur,
Vieux cheval dont le pied à chaque obstacle butte.
Résigne-toi, mon cœur; dors ton sommeil de brute.
Esprit vaincu, fourbu! Pour toi, vieux maraudeur,
L’amour n’a plus de goût, non plus que la dispute;
Adieu donc, chants du cuivre et soupirs de la flûte!
Plaisirs, ne tentez plus un coeur sombre et boudeur!
Le Printemps adorable a perdu son odeur!
Et le Temps m’engloutit minute par minute,
Comme la neige immense un corps pris de roideur;
Je contemple d’en haut le globe en sa rondeur
Et je n’y cherche plus l’abri d’une cahute.
Avalanche, veux-tu m’emporter dans ta chute?
O gosto do nada
Espírito sombrio, outrora afeito à luta,
A Esperança, que um dia te instigou o ardor,
Não te cavalga mais! Deita-te sem pudor,
Cavalo que tropeça e cujo pé reluta.
Conforma-te, minha alma, ao sono que te enluta.
Espírito alquebrado! ao velho salteador
Já não seduz o amor, nem tampouco a disputa;
Não mais o som da flauta ou do clarim se escuta!
Prazer, dá trégua a um coração desfeito em dor!
Perdeu a doce primavera o seu odor!
O Tempo dia a dia os ossos me desfruta,
Como a neve que um corpo enrija de torpor;
Contemplo do alto a terra esférica e sem cor,
E nem procuro mais o abrigo de uma gruta.
Vais levar-me, avalanche, em tua queda abrupta?
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