O poeta fomenta a desforra contra todos aqueles que
vão de encontro aos interesses do povo, vendilhões da pátria que ainda hoje por
aí estão, que fazem qualquer coisa por dinheiro e ainda querem posar de bons
moços – como esse canalha maior chamado Aécio Neves, um estorvo que bem sabemos
de onde veio e a que veio!
A poesia de Eduardo da Costa faz-me lembrar, por
vezes, a do norte-americano Carl Sandburg, que se identificava
com o povo, quando se punha a afirmar: “Eu sou o povo, a multidão, a massa; e
todo o trabalho do mundo é por mim executado!” E então: o povo brasileiro ainda
há de superar todas as mazelas que a elite política, judicial e midiática
ordinariamente lhe impõe!
J.A.R. – H.C.
Eduardo Alves da Costa
(n. 1936)
Banana Split
Aos que devoram o
mundo
tranquilos, como se
comessem
uma banana split;
aos que usam as
assembleias
como balcão de
negócios,
na esperança de
vender
seu estoque de
bombas;
aos banqueiros
internacionais,
pressurosos em
atender
os mendigos de
Estado,
em troca de pequenas
concessões;
aos que plantam suas
máquinas
em terras
estrangeiras,
para espremer os
frutos,
o solo e as gentes;
àqueles que falam
doce
e mandam seus
missionários
catequizar os gentios
com hinos de dúbia
letra;
aos amantes da
ciência,
magos e feiticeiros,
hábeis em curar
moléstias
geradas por eles
mesmos;
aos que levam nosso
ferro
e areias monazíticas
e nos devolvem em
troca
o saldo de suas
festas;
aos que matam nossa
fome
com sacas de feijão
podre
e nos afogam a sede
num mar de
refrigerantes;
aos que abrem suas
asas
sobre nossas cabeças
ocas
e nos fazem aliados
contra o inimigo
deles;
enfim, a todos
aqueles
que usando de
artimanhas
suas artes nos
ensinam,
nossa gratidão
eterna.
E a promessa de que
um dia,
tão logo estejamos
prontos,
restituiremos em
dobro.
Em: “O Tocador de Atabaque:
1962/1969” (Livro II)
A vingança de Joukahainen
(Akseli
Gallen-Kallela: pintor filandês)
Referência:
COSTA, Eduardo Alves
da. Banana split. In: __________. No caminho, com
Maiakóvski. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1987. p. 38.
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