Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 7 de julho de 2018

François Coppée - Julho ‎

O poema, cujo título se atribui ao presente mês de julho, faz-nos lembrar dos derradeiros e sangrentos eventos da Revolução Francesa, que em 9 de Thermidor – isto é, 27 de julho de 1794 – experimentou os últimos espasmos da Fase do Terror, com a detenção de Robespierre – logo sem seguida decapitado – e outros revolucionários. Consigne-se, por oportuno, que Thermidor era um mês do calendário francês que mediava entre julho e agosto.

 

Talvez tenha ido longe demais na menção histórica. Afinal, o texto de Coppée expõe, em primeiro plano, a situação do sujeito lírico, a extravasar a bile e o sangue em decorrência de um amor torturado, para o qual se indicaria, como drástico remédio, a cisão de um sonho tão duradouramente alimentado.

 

J.A.R. – H.C.

 

François Coppée

(1842-1908)

 

Juillet

 

Le ciel flambe et la terre fume,

La caille frémit dans le blé;

Et, par un spleen lourd accablé,

Je dévore mon amertume.

 

Sous l’implacable Thermidor

Souffre la nature immobile;

Et dans le regret et la bile

Mon chagrin s’aigrit plus encor.

 

Crève donc, cœur trop gonflé, crève,

Cœur sans courage et sans raison,

Qui ne peux vomir ton poison

Et ne peux oublier ton rêve!

 

Par cet insultant jour d’été,

Cœur torturé d’amour, éclate!

Et que, de ta fange écarlate

Me voyant tout ensanglanté,

 

Ainsi que l’apostat antique,

Avec un blasphème impuissant,

Je jette à pleines mains mon sang

A ce grand soleil ironique!

 

Folhas vermelhas e mar

(Lisa Ballard: pintora norte-irlandesa)

 

Julho

 

Fulge o azul, fumega o chão,

Mexe a codorna no trigo,

Sob o “spleen” – bronco inimigo –

Devoro a minha aflição.

 

Geme inerte a natureza

No implacável Thermidor;

Mais se aguça o meu rancor

Na saudade e na tristeza.

 

Coração – antes morrer,

Já que não podes, ao menos,

Vomitar os teus venenos,

Nem teus sonhos esquecer.

 

Formoso dia insolente!

Coração, estoura, enfim!

E que eu inundado, assim,

No teu sangue rubro e quente,

 

Como o apóstata da Cruz,

Em torva blasfêmia exangue,

Lance, às mãos cheias, meu sangue

As ironias da luz!

 

(11 de maio de 1881)

 

Referência:

 

COPPÉE, François. Juin / Junho. Tradução de Raimundo Correia e Valentim ‎‎Magalhães. In: ‎‎__________. Poesias completas de Raimundo Correia. Vol. II. Organização, prefácio e notas de Múcio Leão. São Paulo, SP: Companhia Editora Nacional, ‎‎1948. Em francês: p. 452-453; em português: p. 378.

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