Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 20 de julho de 2018

Dennis Lee - Feliz pelas razões erradas ‎

A ideia sugerida pelo poeta canadense, neste poema, parece ser a de que as relações humanas trazem consigo uma forma de alegria ou de contentamento inexplicável e recorrente, como resultado, em parte, do desarranjo da vida quotidiana, sem apontar, necessariamente, para um ponto de convergência absoluto, a exemplo do amor.

 

Depois de um pesadelo de “ausência”, com o refluxo das latas de lixo e as características familiares de sua vida doméstica, vem o ente lírico a afirmar: “Jesus, há algo em nossas vidas que não faz sentido”. Ou seja: temos em vista aquela sensação que a todos assombra ao despertar, como se o sonho fosse mais palpável do que a realidade à volta, tantas vezes paradoxal e arbitrária.

J.A.R. – H.C.

 

Dennis Lee

(n. 1970)

 

Glad for the wrong reasons

 

Night and day it

goes on, it goes

on. I hear what feel like ponderous immaculate

lizards moving through; I call it

absence I call it silence but often I am

glad for the wrong reasons.

Many times at 6:00 a.m. there is a

fiendish din of cans, like now

for instance and we

lunge up punctured through the

blur & the broken

glass of last night’s argument, fetching up

groggy on a landscape of bed, well I can

taste our dubious breath and look it’s

me, babe, I wabble my neck and lounge the

trophy from my dream across your belly, your

body slouches towards me, jesus, there is

something about our lives that

doesn’t make sense, tomorrow

I’ll fix them up, remind me, the garbage

cans have stopped now but the room is

bright too bright to

fix I mean ah jesus I burrow slow

motion back to sleep; and the

lizards resume their

phosphorescent progress, I crowd towards them but I should

not be here now, swallowing fast & doggedly gawking &

staying put and glad but glad for the wrong reasons.

 

O Lagarto Verde

(Charles E. Perugini: pintor ítalo-inglês)

 

Feliz pelas razões erradas

 

Noite e dia isto

sucede, isto

sucede. Ouço o que sinto como pesados lagartos

imaculados movendo-se; chamo-os

ausência, chamo-os silêncio, embora muitas vezes fique

feliz pelas razões erradas.

Com frequência, às 6h da manhã, há um

barulho infernal de latas, como agora,

por exemplo, e nós

saltamos de súbito, arruinados devido à

confusão e ao vidro

estilhaçado da discussão da noite anterior, acabando

atordoados sobre a paisagem da cama; bem posso

sentir nossa respiração duvidosa e veja,

querida, sou eu a mover o pescoço e repousar o

troféu do meu sonho sobre o seu ventre, e então o seu

corpo se inclina em direção a mim; Jesus, há

algo em nossas vidas que

não faz sentido; amanhã

as consertarei, lembre-me; as latas

de lixo pararam agora, mas o quarto está

claro, muito claro, para

consertos; ah Jesus, afasto-me em câmera

lenta de volta ao sono; e os

lagartos retomam a sua

marcha fosforescente; abro caminho em direção a eles,

embora não devesse

estar aqui agora, ingerindo rápido, obstinadamente

boquiaberto,

fazendo-me quieto e feliz, mas feliz pelas razões erradas.

 

Referência:

 

LEE, Dennis. Glad for the wrong reasons. In: COLOMBO, John Robert (Ed.). How do I love thee: sixty poets of canada (and quebec) select and introduce their favourite poems from their own work. Edmonton, AB / CA: M. G. Hurtig, 1970. p. 139.

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