A ideia sugerida pelo
poeta canadense, neste poema, parece ser a de que as relações humanas trazem
consigo uma forma de alegria ou de contentamento inexplicável e recorrente,
como resultado, em parte, do desarranjo da vida quotidiana, sem apontar, necessariamente,
para um ponto de convergência absoluto, a exemplo do amor.
Depois de
um pesadelo de “ausência”, com o refluxo das latas de lixo e as
características familiares de sua vida doméstica, vem o
ente lírico a afirmar: “Jesus, há algo em nossas vidas que não faz sentido”. Ou
seja: temos em vista aquela sensação que a todos assombra ao despertar, como se
o sonho fosse mais palpável do que a realidade à volta, tantas vezes paradoxal
e arbitrária.
J.A.R. – H.C.
Dennis Lee
(n. 1970)
Glad for the wrong
reasons
Night and day it
goes on, it goes
on. I hear what feel
like ponderous immaculate
lizards moving
through; I call it
absence I call it
silence but often I am
glad for the wrong
reasons.
Many times at 6:00
a.m. there is a
fiendish din of cans,
like now
for instance and we
lunge up punctured
through the
blur & the broken
glass of last night’s
argument, fetching up
groggy on a landscape
of bed, well I can
taste our dubious
breath and look it’s
me, babe, I wabble my
neck and lounge the
trophy from my dream
across your belly, your
body slouches towards
me, jesus, there is
something about our
lives that
doesn’t make sense,
tomorrow
I’ll fix them up,
remind me, the garbage
cans have stopped now
but the room is
bright too bright to
fix I mean ah jesus I
burrow slow
motion back to sleep;
and the
lizards resume their
phosphorescent
progress, I crowd towards them but I should
not be here now,
swallowing fast & doggedly gawking &
staying put and glad
but glad for the wrong reasons.
O Lagarto Verde
(Charles E. Perugini: pintor ítalo-inglês)
Feliz pelas razões
erradas
Noite e dia isto
sucede, isto
sucede. Ouço o que
sinto como pesados lagartos
imaculados
movendo-se; chamo-os
ausência, chamo-os
silêncio, embora muitas vezes fique
feliz pelas razões
erradas.
Com frequência, às 6h
da manhã, há um
barulho infernal de
latas, como agora,
por exemplo, e nós
saltamos de súbito,
arruinados devido à
confusão e ao vidro
estilhaçado da
discussão da noite anterior, acabando
atordoados sobre a
paisagem da cama; bem posso
sentir nossa
respiração duvidosa e veja,
querida, sou eu a
mover o pescoço e repousar o
troféu do meu sonho
sobre o seu ventre, e então o seu
corpo se inclina em
direção a mim; Jesus, há
algo em nossas vidas
que
não faz sentido;
amanhã
as consertarei,
lembre-me; as latas
de lixo pararam
agora, mas o quarto está
claro, muito claro,
para
consertos; ah Jesus,
afasto-me em câmera
lenta de volta ao
sono; e os
lagartos retomam a
sua
marcha fosforescente;
abro caminho em direção a eles,
embora não devesse
estar aqui agora,
ingerindo rápido, obstinadamente
boquiaberto,
fazendo-me quieto e
feliz, mas feliz pelas razões erradas.
Referência:
LEE, Dennis. Glad for
the wrong reasons. In: COLOMBO, John Robert (Ed.). How do I love
thee: sixty poets of canada (and quebec) select and introduce their
favourite poems from their own work. Edmonton, AB / CA: M. G. Hurtig, 1970. p.
139.
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