Milosz nos conta como tudo se reduziu, em sua poesia, a sintetizar a
beleza, ela que é tudo o quanto se pode reter de resistente, insubmisso,
indelével da matéria contingente de que consiste a realidade, como as
cerejeiras em flor, os crisântemos e a luz cheia, tantas vezes reproduzidos nas
telas dos artistas orientais.
O poeta, de fato, declina o seu entendimento sobre a natureza da poesia,
sobre o que ela pode e o que não pode concretizar, sobre como empregá-la para
replicar as experiências do autor de modo a revelar algum significado para os
leitores, isso mesmo a despeito das dificuldades em se reproduzir as qualidades
inefáveis da vida e do que vai no interno de cada um.
J.A.R. – H.C.
Czeslaw Milosz
(1911-2004)
Nie Więcej
Powinienem powiedzieć
kiedyś jak zmieniłem
Opinię o poezji i jak to się stało,
śe uwaŜam się
dzisiaj za jednego z wielu
Kupców i rzemieślników Cesarstwa Japonii
Układających wiersze o kwitnieniu wiśni,
O chryzantemach i
pełni księŜyca.
Gdybym ja mógł
weneckie kurtyzany
Opisać, jak w
podwórzu witką draŜnią pawia
I z tkaniny
jedwabnej, z perłowej przepaski
Wyłuskać ocięŜałe piersi, czerwonawą
Pręgę na brzuchu od zapięcia sukni,
Tak przynajmniej jak
widział szyper galeonów
Przybyłych tego ranka
z ładunkami złota;
I gdybym równocześnie mógł ich biedne kości
Na cmentarzu, gdzie
bramę liŜe
tłuste morze,
Zamknąć w słowie mocniejszym niŜ ostatni grzebień
Który w próchnie pod
płytą, sam, czeka na światło.
Tobym nie zwątpił. Z opornej materii
Co da się zebrać? Nic, najwyŜej piękno.
A wtedy nam
wystarczyć muszą kwiaty wiśni
I chryzantemy i
pełnia księŜyca.
Montgeron, 1957
Monte Fuji na Primavera
(Autor Desconhecido)
No More
I should relate
sometime how I changed
My views on poetry,
and how it came to be
That I consider
myself today one of the many
Merchants and
artisans of Old Japan,
Who arranged verses about
cherry blossoms,
Chrysanthemums and
the full moon.
If only I could
describe the courtesans of Venice
As in a loggia they
teased a peacock with a twig,
And out of brocade,
the pearls of their belt,
Set free heavy
breasts and the reddish weal
Where the buttoned
dress marked the belly,
As vividly as seen by
the skipper of galleons
Who landed that
morning with a cargo of gold;
And if I could find
for their miserable bones
In a graveyard whose
gates are licked by greasy water
A word more enduring
than their last-used comb
That in the rot under
tombstones, alone, awaits the light,
Then I wouldn’t
doubt. Out of reluctant matter
What can be gathered?
Nothing, beauty at best.
And so, cherry
blossoms must suffice for us
And chrysanthemums
and the full moon.
Montgeron, 1957
Flores e Lua Cheia
(Autor Desconhecido)
Nada Mais
Hei de expor algum
dia como mudei
De opinião sobre a
poesia e como sucedeu para
Que, hoje, me
considere como um dos muitos
Mercadores e artesãos
do Japão Imperial
Que teciam versos
sobre a floração das cerejeiras,
Os crisântemos e a
lua cheia.
Se pudesse ter descrito
como as cortesãs de Veneza
No pátio, incitam com
uma verga um pavão real,
E do tecido de seda, do
cinto perolado,
Desvencilham os
pesados seios, expondo as marcas
Avermelhadas do fecho
do vestido sobre o ventre,
Tão vividamente
quanto as vira o capitão do galeão
Que esta manhã
fundeou com sua carga de ouro;
E se, ao mesmo tempo,
seus pobres ossos pudesse ter,
No cemitério, cujos
portões são lambidos pelo mar oleoso,
Enleado numa palavra
mais durável que o seu último pente
Que, na podridão sob
a lápide, espera pela luz,
Então a dúvida não
teria me assediado. De conteúdo indelével
O que se pode reter?
Nada, no máximo a beleza.
E temos, então, de
nos contentar com as flores das cerejeiras,
Os crisântemos e a
lua cheia.
Montgeron, 1957
P.s.: Depois de haver postado este
poema, verifiquei que a sua versão ao português, por outro tradutor, já aqui
constava no bloguinho. Ficam, então, as duas versões, para quem se dispuser a
cotejá-las.
Referência:
MILOSZ, Czeslaw. Nie więcej / No more. Translated by Anthony Milosz. In: __________. Poezje wybrane / Selected poems.
Bilingual edition: polish x english. Kraków, PL: Wydawnictwo Literackie, 1996.
In polish: p. 132; in english: p. 133.
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