Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 14 de julho de 2018

Czeslaw Milosz - Nada Mais ‎

Milosz nos conta como tudo se reduziu, em sua poesia, a sintetizar a beleza, ela que é tudo o quanto se pode reter de resistente, insubmisso, indelével da matéria contingente de que consiste a realidade, como as cerejeiras em flor, os crisântemos e a luz cheia, tantas vezes reproduzidos nas telas dos artistas orientais.

O poeta, de fato, declina o seu entendimento sobre a natureza da poesia, sobre o que ela pode e o que não pode concretizar, sobre como empregá-la para replicar as experiências do autor de modo a revelar algum significado para os leitores, isso mesmo a despeito das dificuldades em se reproduzir as qualidades inefáveis da vida e do que vai no interno de cada um.

J.A.R. – H.C.

Czeslaw Milosz
(1911-2004)

Nie Więcej

Powinienem powiedzieć kiedyś jak zmieniłem
Opinię o poezji i jak to się stało,
śe uwaŜam się dzisiaj za jednego z wielu
Kupców i rzemieślników Cesarstwa Japonii
Układających wiersze o kwitnieniu wiśni,
O chryzantemach i pełni księŜyca.

Gdybym ja mógł weneckie kurtyzany
Opisać, jak w podwórzu witką draŜnią pawia
I z tkaniny jedwabnej, z perłowej przepaski
Wyłuskać ocięŜałe piersi, czerwonawą
Pręgę na brzuchu od zapięcia sukni,
Tak przynajmniej jak widział szyper galeonów
Przybyłych tego ranka z ładunkami złota;
I gdybym równocześnie mógł ich biedne kości
Na cmentarzu, gdzie bramę liŜe tłuste morze,
Zamknąć w słowie mocniejszym niŜ ostatni grzebień
Który w próchnie pod płytą, sam, czeka na światło.

Tobym nie zwątpił. Z opornej materii
Co da się zebrać? Nic, najwyŜej piękno.
A wtedy nam wystarczyć muszą kwiaty wiśni
I chryzantemy i pełnia księŜyca.

Montgeron, 1957

Monte Fuji na Primavera
(Autor Desconhecido)

No More

I should relate sometime how I changed
My views on poetry, and how it came to be
That I consider myself today one of the many
Merchants and artisans of Old Japan,
Who arranged verses about cherry blossoms,
Chrysanthemums and the full moon.

If only I could describe the courtesans of Venice
As in a loggia they teased a peacock with a twig,
And out of brocade, the pearls of their belt,
Set free heavy breasts and the reddish weal
Where the buttoned dress marked the belly,
As vividly as seen by the skipper of galleons
Who landed that morning with a cargo of gold;
And if I could find for their miserable bones
In a graveyard whose gates are licked by greasy water
A word more enduring than their last-used comb
That in the rot under tombstones, alone, awaits the light,

Then I wouldn’t doubt. Out of reluctant matter
What can be gathered? Nothing, beauty at best.
And so, cherry blossoms must suffice for us
And chrysanthemums and the full moon.

Montgeron, 1957

Flores e Lua Cheia
(Autor Desconhecido)

Nada Mais

Hei de expor algum dia como mudei
De opinião sobre a poesia e como sucedeu para
Que, hoje, me considere como um dos muitos
Mercadores e artesãos do Japão Imperial
Que teciam versos sobre a floração das cerejeiras,
Os crisântemos e a lua cheia.

Se pudesse ter descrito como as cortesãs de Veneza
No pátio, incitam com uma verga um pavão real,
E do tecido de seda, do cinto perolado,
Desvencilham os pesados seios, expondo as marcas
Avermelhadas do fecho do vestido sobre o ventre,
Tão vividamente quanto as vira o capitão do galeão
Que esta manhã fundeou com sua carga de ouro;
E se, ao mesmo tempo, seus pobres ossos pudesse ter,
No cemitério, cujos portões são lambidos pelo mar oleoso,
Enleado numa palavra mais durável que o seu último pente
Que, na podridão sob a lápide, espera pela luz,

Então a dúvida não teria me assediado. De conteúdo indelével
O que se pode reter? Nada, no máximo a beleza.
E temos, então, de nos contentar com as flores das cerejeiras,
Os crisântemos e a lua cheia.

Montgeron, 1957

P.s.: Depois de haver postado este poema, verifiquei que a sua versão ao português, por outro tradutor, já aqui constava no bloguinho. Ficam, então, as duas versões, para quem se dispuser a cotejá-las.

Referência:

MILOSZ, Czeslaw. Nie więcej / No more. Translated by Anthony Milosz. In: __________. Poezje wybrane / Selected poems. Bilingual edition: polish x english. Kraków, PL: Wydawnictwo Literackie, 1996. In polish: p. 132; in english: p. 133.

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