A poetisa afirma apreciar os livros intitulados “Poemas Reunidos” (“Collected
Poems”), pela ideia de festa ou de quermesse que transmitem, quando o autor já
dá por encerrados os trabalhos de toda uma vida dedicada à poesia e resolve
congregar seus poemas, já não tão assemelhados entre si, algo entediados,
malcontentes.
Tudo remonta às histórias associadas aos mais diversos carmes, que, por similaridade
ou discrepância, podem representar ou bem puros momentos de desenfado ou bem
arestas inconciliáveis, a demonstrar que na mente do autor há um vulcão pejado
de conteúdos contraditórios.
J.A.R. – H.C.
Ana Maria Marques
(n. 1977)
Poemas reunidos
Sempre gostei dos
livros
chamados poemas
reunidos
pela ideia de festa
ou de quermesse
como se os poemas se
encontrassem
como parentes
distantes
um pouco entediados
em volta de uma mesa
como ex-colegas de
colégio
como amigas antigas
para jogar cartas
como combatentes
numa arena
galos de briga
cavalos de corrida ou
boxeadores num ringue
como ministros de
estado
numa cúpula
ou escolares em
excursão
como amantes secretos
num quarto de hotel
às seis da tarde
enquanto sem alegria
apagam-se
as flores do papel de parede
as flores do papel de parede
Capa do livro de
Poemas Reunidos de
Peter Reading
Referência:
MARQUES, Ana Maria. Poemas reunidos. In: CALCANHOTO,
Adriana (Org.). É agora como nunca:
antologia incompleta
da poesia contemporânea brasileira. 1.
ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2017. p. 15.
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