Um poema de um poeta sobre a composição de um músico: é o que temos
agora. O poeta? O gaúcho Eduardo Guimaraens. O músico? Nada menos que o polonês
Chopin. A música? Um de seus mais conhecidos prelúdios, o de nº 4, apresentado
mais abaixo, em performance do israelita Alon Goldstein.
A melodia é bastante densa e contrita. Por ser de Chopin – ou até por
isso mesmo –, consta na trila sonora do filme “O Pianista”, de 2002, com direção
de Roman Polanski, cujo enredo se baseia na autobiografia do também pianista Władysław
Szpilman, polaco de origem judaica.
J.A.R. – H.C.
Eduardo Guimaraens
(1892-1928)
Chopin: Prelúdio nº 4
Do fundo do salão
vem-me o seu pranto sobre-humano,
como do fundo irreal
de um desespero hoje olvidado:
dir-se-ia que estes
sons têm um tom de ouro avioletado;
há um anjo a
desfolhar lírios de sombra sobre o piano.
Doce prelúdio! Que
ermo e doloroso desengano
fala, através do seu
vago perfume de passado?
Sobre Chopin a noite
abre o amplo manto constelado:
um delírio de amor
anda por tudo, insone, insano!
Em cada nota solta há
como um lânguido lamento.
– Oh, a doçura de
sentir que o teu olhar, perdido,
sonha, recorda e
sofre, ao doce ritmo vago e lento!
E o silêncio! E a
paixão que abre em adeus as mãos absortas!
E o passado que volta
e traz consigo, inesquecido,
um aroma secreto e
vago e doce, a flores mortas!
Chopin - Prelude in E minor Op 28 nº 4
(Alon Goldstein ao Piano)
Referência:
GUIMARAENS, Eduardo. Chopin: prelúdio
nº 4. In: FARACO, Sérgio (Org.). Livro
dos poemas: uma antologia de poetas brasileiros e portugueses. Porto
Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 108.
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