Num encontro amoroso que se configura furtivo, o poeta incorre em
“mentira” que lhe assola a consciência. Ao fim, atira uma pedrinha num corvo
que se encontra no ermo galpão.
A presença também de um gato no ambiente denota recurso ao simbolismo da
sensualidade e da beleza sestrosa. Afinal, é ou não a mulher felina uma alegoria que comumente se emprega para as beldades lascivas, ladinas?!
J.A.R. – H.C.
William Matthews
nasceu em Cincinnati, Ohio, em 1942, [e faleceu em 1997]. Graduou-se pela Yale University e University of
North Carolina. Publicou Ruining The New
Road; Sleek for the Long Flight; Sticks & Stones; Rising & Falling; A World Rich in Anniversaries (traduções
dos poemas em prosa de Jean Follain, em colaboração com Mary Feeney); Flood; A Happy Childhood; Foreseeable
Futures; Blues If You Want; Curiosities (ensaios); Selected Poems & Translations 1969-1991
e, recentemente, Time & Money: New
Poems. Trabalhou como editor da Lillabulero Press e Wesleyan University Press, Iowa Review e Indiana Review. Recebeu o Oscar Blumenthal Award oferecido pela
revista Poetry e o Governors Award
for Literature do estado de Washington em 1983, o Eunice Tietjens Memorial
Prize em 1989 e o Union League Prize em 1993 (O’SHEA, 1997, p. 257-258).
William Matthews
(1942-1997)
The Hour
A cat came round the shed
with tail erect, but no One else was there.
Blue rivulets of shadow − these from some
tatty mullein stems − trickled steadily
across the snowcrust. I’d come to spend
an hour with the hour
rd denied, and to see what my lie bought.
We left the door ajar to fold your blue
dress over, and you crossed your spindly arms
and grasped it by the hem and pulled it,
rather slowly I thought,
over your taunting face, then stalled a beat
or two like that. I was happy beyond
explanation with our drama, so that
while you paused in a silk caesura
I insinuated,
and for this I had knelt,
my nubbled tongue into your soapy navel,
for you were fresh from the shower, and then
we were all over one another. There
would be hell to pay and hell would take a check,
but that’s another story.
A lies like having a lock on the door,
I thought the first time I told it, and soon
enough we were locked in, the lie and I.
Why would I go back to the shed?
I needed to get out: the lie and I raked at each
other’s nerves. But
out
is anywhere and I went to the shed
and scuffed my feet like a schoolboy and threw
a small stone at a crow and stroked the cat
and then my time was up.
Casal de Leopardos
(William Huggins: pintor
inglês)
A Hora
Um gato surgiu no
galpão
com rabo ereto, mas
ali não havia mais ninguém.
Regatos azuis de
sombra – desses de
hastes de verbascos
trançados – escorriam sem parar
pela crosta de neve.
Eu vinha passar
uma hora com a hora
que havia negado, e
ver o que comprava minha mentira.
Deixamos a porta
entreaberta para envolver teu vestido
azul; cruzaste teus
braços esguios
apanhando-o pela
bainha e o puxaste,
bem devagar, pensei,
pelo teu rosto
irônico, depois hesitaste um compasso
ou dois. Eu estava
tão feliz com nosso drama
que mal podia
explicar porquê, tanto que
quando paraste em
cesura de seda
eu me insinuei,
e por isso fiquei de
joelhos,
a língua aguda em teu
umbigo ensaboado,
pois recém saías do
banho, e então,
estávamos um no
outro. Havia
o inferno a pagar e o
inferno aceitaria cheque,
mas isso é um outra
história.
Uma mentira é como
ter um cadeado à porta,
pensei a primeira vez
que menti, e logo
estávamos trancados,
a mentira e eu.
Por que voltaria ao
galpão? Precisava
sair: a mentira e eu
atiçávamos
nossos nervos. Mas
fora
é qualquer lugar e
fui até o galpão
e arrastei os pés
como um colegial e atirei
uma pedrinha num
corvo e acariciei o gato
e, então, minha hora
acabou.
Referência:
MATTHEWS, William. The hour / A hora.
In: O’SHEA, José Roberto (Org.). Antologia
de poesia norte-americana contemporânea. Tradução de Maria Lúcia Milléo
Martins. Florianópolis, SC: Ed. da UFSC, 1997. Em inglês: p. 126; em português:
p. 127.
ö
Nenhum comentário:
Postar um comentário