Mais um poema de Bukowski neste blog. E mais uma vez sobre um de seus
gatos – Manx – um tipo felino da ilha de Man, no arquipélago britânico, que
costuma, por natureza, não possuir cauda e ser ótimo caçador.
Bukowski, de início, reflete sobre o esgotamento das possibilidades no
âmbito da arte, ou melhor, da música e da literatura. Depois, gira o poema para
a temática de seu gato, que, adentrando seus aposentos, parece meio desorientado,
até que se concentra em algo que bem pode ser uma fonte de alimento, embora
ainda não consiga ver com precisão o que seja.
O gato tateando uma presa. Bukowski em busca de algo novidadeiro e
relevante em matéria de arte. Ambos prosseguem em sua batida...
J.A.R. – H.C.
Charles Bukowski
(1920-1994)
Manx
have we gone wrong again?
we laugh less and less,
become more sadly sane.
all we want is
the absence of others.
even favorite classical music
has been heard too often and
all the good books have been
read...
there is a sliding
glass door
and there outside
a white Manx sits
with one crossed eye
his tongue sticks out the
comer of his mouth,
I lean over
and pull the door open
and he comes running in
front legs working
in one direction,
rear legs
in the other.
he circles the
room in a scurvy angle
to where I sit
claws up my legs
my chest
places front legs
like arms
on my shoulders
sticks his snout
against my nose
and looks at me as
best he can.
also befuddled,
I look back.
a better night now,
old boy,
a better time,
a better way now
stuck together
like this
here.
I am able
to smile again
as suddenly
the Manx
leaps away
scattering across the
rug sideways
chasing something now
that none of us
can see.
Bukowski e o seu gato Manx
o gato da ilha de Man
será que erramos de
novo?
rimos menos e menos,
ficamos mais
tristemente sãos.
tudo o que queremos
a ausência dos
outros.
até mesmo a música
clássica favorita
foi ouvida demais e
todos os bons livros
foram
lidos...
há uma porta de vidro
deslizante
e lá fora
um gato branco da
ilha de Man
está sentado com um
olho vesgo
sua língua saindo por
um
canto para fora da
boca.
me inclino
e abro a porta
e ele vem correndo
para dentro
as pernas da frente
correndo
em uma direção,
e as traseiras
em outra.
ele dá a volta no
quarto com um ângulo
doentio
para onde estou
sentado
sobe com as garras
pelas minhas pernas
meu peito
põe as patas
dianteiras
como se fossem braços
sobre meus ombros
enfia seu foginho
no meu nariz
e olha para mim
tão bem quanto pode.
também perplexo,
eu olho para ele.
uma noite melhor
agora,
meu velho,
um momento melhor,
um jeito melhor agora
presos juntos
desse jeito
aqui.
sou capaz
de sorrir de novo
quando de repente
o gato da ilha de Man
salta longe
dispersando pela
saída acarpetada
caçando alguma coisa
que agora
nenhum de nós
consegue ver.
Referências:
Em Inglês:
BUKOWSKI, Charles. Manx. In: __________. The pleasures of the damned. Edinburgh, GB: Canongate Books Ltd.,
2010. p. 411-412.
Em Português:
BUKOWSKI, Charles. o gato da ilha de
Man. In: __________. Vida desalmada.
Tradução Fabio Soares e Gerciana Espíndola. Florianópolis, SC: Spectro, 2006.
p. 47-48.
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