Para o jornalista e escritor maranhense Odylo
Costa, a arte poética recolhe as flores raras de quem existe já em estado de
plena reconciliação com a vida, com os fatos e pensamentos “idos e vividos”,
como diria Machado.
É tal qual, se pressentindo o passamento, o
corpo e a alma se preparassem previamente, abrindo mão da parte que lhes
compõem enquanto visgo rançoso, auxiliando a natureza, desse modo, na recolha
menos atribulada dos “caniços pensantes”.
J.A.R. – H.C.
Odylo Costa, filho
(1914-1979)
Arte Poética
Assim, amigo, desejaria eu escrever:
como um galho de árvore seca
entretanto úmido da noite.
Como quem estende a mão, esquecido de si
próprio,
aos que a dor ameaça afogar em desespero,
num ímpeto de secreta fraternidade.
Despreocupado e quotidiano como a conversa
dos que não sabem que em breve vão morrer de
repente.
Sem adormecer a consciência de ninguém
mas sem tirar o sono a nenhum corpo.
Modesto como quem serve à mesa
leve como quem fala com menino
natural como os bichos na floresta
teimoso como quem quebra pedra no sol.
Compromisso Quotidiano
(Marie-France Hétu: artista canadense)
Referência:
COSTA FILHO, Odylo. Arte poética. In:
PINTO, José Nêumanne (Sel.). Os cem melhores poetas brasileiros do século. São Paulo, SP: Geração, 2001. p. 112.
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