Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 26 de julho de 2015

Aricy Curvello - Cézanne

Um artista da palavra – o poeta mineiro Aricy Curvello –, nos propõe um poema no qual veicula a negativa de uma expressão idiomática bastante comum entre os franceses para destacar a fama de descortesia dos pintores, vale dizer, “bête comme un peintre”, ou em português claro, “estúpido como um pintor”.

A referência está associada ao pintor francês Paul Cézanne (1839-1906), que teria se recusado a “pintar como um animal”, propondo-se a recolocar a inteligência, as ideias, as ciências, a perspectiva em contínuo contato com o mundo natural, do qual, na noite dos tempos, partiram, mantendo, hoje ainda, a nítida missão de compreendê-lo, em especial as ciências (MARLEAU-PONTY, 1984, p. 116-117).

J.A.R. – H.C.

Aricy Curvello
(n. 1945)

Cézanne

Jamais quis pintar
como um animal

porém
na dimensão que nos dá as coisas
repletas de reservas, inesgotáveis:
a do mundo em sua espessura
(não as só palavras em discurso).

Massa sem lacuna:
um organismo de cores.
A vibração das aparências não é o berço das coisas.
Escrevia enquanto pintor
o que não havia sido pintado ainda.

(A criação do que existe é uma tarefa infinita).

Natureza-morta com maçãs
e um vaso de prímulas
(Paul Cézanne: pintor francês)

Referências:

CURVELLO, Aricy. Cézanne. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 348.

MERLEAU-PONTY, Maurice. A dúvida de Cézanne” (Tradução de Nélson Alfredo Aguilar). In: MERLEAU-PONTY. São Paulo, Abril Cultural, 1984. (Col. Os Pensadores)

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