Num jogo de comparações entre as minas de extração de ouro e a lavra
poética propriamente dita, o poeta paulista Menotti Del Picchia regasta conexões
entre o ouro enquanto metal empregado com distintos fins – brincos, reparações
dentárias, reserva de valor das antigas moedas, alianças etc. –, e a poesia, pura
fortuna que pode estar engastada numa pepita de palavras ainda não manifestada.
O que importa, nos diz Picchia, é a essência das coisas. Atribuir
serventia à matéria bruta, pepita ou vocabulário. Transformar o potencial da
substância álgida no mais numinoso objeto de contemplação: seja o ornato
aurífero, seja o verso prestigioso.
J.A.R. – H.C.
Menotti Del Pichia
(1892-1988)
Poesia é ouro
Onde está a poesia?
Na imaginação do
garimpeiro
ainda oculta na
pepita lasca de luz na quina da pedra bruta.
Ouro é ouro
mineral na terra,
puro. Fundido
não degradado no
amálgama embora sofisticado
em molde e moda
no brinco barroco na
cintilação do dente
no céu de esmalte de
uma boca jovem
concha aberta num
sorriso.
Poesia é ouro
carregada de história
no cunho da moeda antiga
mística na âmbula,
sagrada no romance
do anel nupcial amor
alegria sofrimento vida.
Não importa forma ou
fôrma não importa o lugar
não importa
se jovem é o ourives
ou velho o garimpeiro.
O que vale é a
incontaminda essência.
Harmonia em Naturezas-Mortas
(Louise Gelts:
artista russa)
Referência:
PICHIA, Menotti Del. Poesia é ouro. In:
GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia
brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago
de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 145.
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