Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 7 de julho de 2015

Menotti Del Picchia - Poesia é ouro

Num jogo de comparações entre as minas de extração de ouro e a lavra poética propriamente dita, o poeta paulista Menotti Del Picchia regasta conexões entre o ouro enquanto metal empregado com distintos fins – brincos, reparações dentárias, reserva de valor das antigas moedas, alianças etc. –, e a poesia, pura fortuna que pode estar engastada numa pepita de palavras ainda não manifestada.

O que importa, nos diz Picchia, é a essência das coisas. Atribuir serventia à matéria bruta, pepita ou vocabulário. Transformar o potencial da substância álgida no mais numinoso objeto de contemplação: seja o ornato aurífero, seja o verso prestigioso.

J.A.R. – H.C.

Menotti Del Pichia
(1892-1988)

Poesia é ouro

Onde está a poesia?

Na imaginação do garimpeiro
ainda oculta na pepita lasca de luz na quina da pedra bruta.

Ouro é ouro
mineral na terra, puro. Fundido
não degradado no amálgama embora sofisticado
em molde e moda
no brinco barroco na cintilação do dente
no céu de esmalte de uma boca jovem
concha aberta num sorriso.

Poesia é ouro
carregada de história no cunho da moeda antiga
mística na âmbula, sagrada no romance
do anel nupcial amor alegria sofrimento vida.

Não importa forma ou fôrma não importa o lugar
não importa
se jovem é o ourives ou velho o garimpeiro.

O que vale é a incontaminda essência.

Harmonia em Naturezas-Mortas
(Louise Gelts: artista russa)

Referência:

PICHIA, Menotti Del. Poesia é ouro. In: GARCÍA, Xosé Lois. Antologia da poesia brasileira / Antología de la poesía brasileña. Edición bilingüe. Santiago de Compostela, Galiza, U.E.: Laiovento, 2001. p. 145.

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