Vamos, aqui, a mais um poema do escritor norte-americano Wallace
Stevens, um dos meus poetas favoritos. Em sua visão, o estado estacionário das
coisas seria o das mais gélidas esferas, como que a replicar o próprio ciclo de vida e morte de todos os seres neste espaço natural que é o universo.
Stevens decifra-o, a despeito de não haver quaisquer elementos
impressos nas páginas sombrias do livro que se dispõe a ler. Em suas páginas,
tão apenas os rastros de estrelas ardentes que transpõem os céus
enregelados, até que mais nenhum fóton luminoso persista como testemunha de um movimento outrora carregado de energia.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
The Reader
All night I sat reading a book,
Sat reading as if in a book
Of sombre pages.
It was autumn and falling stars
Covered the shrivelled forms
Crouched in the moonlight.
No lamp was burning as I read,
A voice was mumbling, “Everything
Falls back to coldness,
Even the musky muscadines,
The melons, the vermilion pears
Of the leafless garden”.
The sombre pages bore no print
Except the trace of burning stars
In the frosty heaven.
A Leitora
Buffalo Bonker:
pintor
norte-americano
O Leitor
Sentei-me a ler um
livro a noite inteira,
Sentado lendo como se
imerso num livro
De páginas sombrias.
Era outono e estrelas
cadentes
Cobriam as formas
vincadas
Inclinadas à luz da
lua.
Ao ler, nenhuma lâmpada
ardia,
Então uma voz
murmurou: “Tudo
Ao frio regressa,
Inclusive as
almiscaradas muscadíneas,
Os melões e as peras
vermelhas
Do desfolhado jardim”.
Nas páginas sombrias não
se viam impressões
Exceto o rastro de
estrelas flamejantes
No gélido firmamento.
Referência:
STEVENS, Wallace. The reader. In: __________. The collected poems. Ideas of Order. 11. ed. New York, NY: Alfred
A. Knopf. Inc., feb. 1971. p. 146-147.
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