Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Poetas do Grão-Pará (IV) - Cristóvam Araújo

Para os que apreciam a combinação de poesia e música, trazemos aqui um poema do poeta Cristóvam Araújo, com música de Nílson Chaves e Vital Lima, todos eles amazônidas paraenses.

Fazendo alusão à famosa lenda amazônica do boto, o poema vai mais além, abrindo-se como uma flor para todas as paisagens regionais, da onipresença do rio às pontuais chuvas, dos meios de transportes fluviais às áreas portuárias, bairros, festas religiosas, redes, trapiches e clima quente. Um poema-síntese do espírito amazônico!

J.A.R. – H.C.

Cristóvam José Souza Henriques de Araújo
(SAVARY, 2001, p. 145)

Nascido em Belém, Cristóvam Araújo transferiu-se depois para o Rio de Janeiro, onde continua radicado. É funcionário da Caixa Econômica Federal. Além de poeta, trabalha com a MPB.
Trabalhos publicados: Cidade. Poesia e contos. Belém, Semec, 1980; Letra de O Rei e o Frevo, música gravada no disco Gerações, de Carlos Henry, SP, 1980/81; Produção do disco Dança de Tudo, de Nilson Chaves, e autoria das letras das músicas Rastro, Devaneios e Canção da Véspera, Rio de Janeiro, 1981; e letra de Olho de Boto, música gravada no disco Interiores, de Nilson Chaves e Vital Lima, RJ, 1981.

Cristóvam Araújo
(n. 1951)

Olho de Boto

E tu ficaste serena
nas entrelinhas do sonho,
nos escaninhos do riso,
olhando pra nós, escondida,
com os teus olhos de rio.

Vieste feito um gaiola
engravidado de redes,
aportando nos trapiches
do dia-a-dia e memória.

E ficaste defendida
com todas as tuas letras,
entre cartas e surpresas,
Recírio, chuva e tristeza.

Vês o peso da tua falta
nas velas e barcos parados,
encalhados nas lembranças
de Val-de-Cans ao Guamá.

Porto do sal, das saudades,
das velhas palhas trançadas,
na rede de outras ruas,
às margens de outra cidade.

Olho de boto
no fundo dos olhos
de toda paisagem.

Nílson Chaves e Vital Lima
“Olho de Boto”

Referência:

ARAÚJO, Cristóvam. Olho de boto. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 146.

Um comentário:

  1. Sempre bom te encontrar, grande poeta, pessoinha incrível de conteúdo e de alma.

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