Para os que apreciam a combinação de poesia e música, trazemos aqui um
poema do poeta Cristóvam Araújo, com música de Nílson Chaves e Vital Lima, todos eles amazônidas paraenses.
Fazendo alusão à famosa lenda amazônica do boto, o poema vai mais além, abrindo-se
como uma flor para todas as paisagens regionais, da onipresença do rio às
pontuais chuvas, dos meios de transportes fluviais às áreas portuárias, bairros,
festas religiosas, redes, trapiches e clima quente. Um poema-síntese do espírito amazônico!
J.A.R. – H.C.
Cristóvam José Souza Henriques de Araújo
(SAVARY, 2001, p. 145)
Nascido em Belém, Cristóvam Araújo
transferiu-se depois para o Rio de Janeiro, onde continua radicado. É funcionário da Caixa Econômica Federal. Além de poeta, trabalha com a MPB.
Trabalhos publicados:
Cidade. Poesia e contos. Belém,
Semec, 1980; Letra de O Rei e o Frevo,
música gravada no disco Gerações, de Carlos Henry, SP, 1980/81; Produção do
disco Dança de Tudo, de Nilson
Chaves, e autoria das letras das músicas Rastro,
Devaneios e Canção da Véspera, Rio de Janeiro, 1981; e letra de Olho de Boto, música gravada no disco
Interiores, de Nilson Chaves e Vital Lima, RJ, 1981.
Cristóvam Araújo
(n. 1951)
Olho de Boto
E tu ficaste serena
nas entrelinhas do
sonho,
nos escaninhos do
riso,
olhando pra nós,
escondida,
com os teus olhos de
rio.
Vieste feito um
gaiola
engravidado de redes,
aportando nos
trapiches
do dia-a-dia e
memória.
E ficaste defendida
com todas as tuas
letras,
entre cartas e
surpresas,
Recírio, chuva e
tristeza.
Vês o peso da tua
falta
nas velas e barcos
parados,
encalhados nas
lembranças
de Val-de-Cans ao
Guamá.
Porto do sal, das
saudades,
das velhas palhas
trançadas,
na rede de outras
ruas,
às margens de outra
cidade.
Olho de boto
no fundo dos olhos
de toda paisagem.
Nílson Chaves e Vital Lima
“Olho de Boto”
Referência:
ARAÚJO, Cristóvam. Olho de boto. In:
SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia
do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 146.
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Sempre bom te encontrar, grande poeta, pessoinha incrível de conteúdo e de alma.
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