Faz jorrar o “sangue de tua carne e as vozes de teu espírito”. Tal é o
conselho do poeta carioca Ronald de Carvalho em seu poema abaixo transcrito,
poema no qual o internauta pode perceber, com facilidade, o seu indisfarçável
potencial declamatório.
É pela exortação que Ronald de Carvalho, também um político, procura
convocar os seus pares para a construção de um novo mundo, cada qual em seu
próprio ritmo. Ritmo que se extrai quer da natureza inorgânica, quer da dinâmica
do espírito, em sua dor ou alegria.
J.A.R. – H.C.
Ronald de Carvalho
Retrato de Cândido
Portinari
(1893-1935)
Teoria
Cria o teu ritmo a
cada momento.
Ritmo grave ou
límpido ou melancólico;
ritmo de flauta
desenhando no ar imagens claras
de bosques, de águas
múrmuras, de pés ligeiros e de asas;
ritmo de harpas,
ritmo de bronzes,
ritmo de pedras,
ritmo de colunas
severas ou risonhas,
ritmo de estátuas,
ritmo de montanhas,
ritmo de ondas,
ritmo de dor ou ritmo
de alegria!
Não esgotes jamais a
fonte da tua poesia,
enche a bilha de
barro ou o cântaro de granito
com o sangue de tua
carne e as vozes de teu espírito!
Cria o teu ritmo
livremente,
Como a natureza cria
as árvores e as ervas rasteiras.
Cria o teu ritmo e
criarás o mundo!
Geopoliticus
(Salvador Dalí:
pintor espanhol)
Referência:
CARVALHO, Ronald de. Teoria. In:
TORRES, Alexandre Pinheiro (Seleção, Introdução e Notas). Antologia da poesia brasileira: os modernistas. v. III. Porto, PT:
Livraria Chardron de Lello & Irmão Editores, 1984. p. 20.
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