Se Belém fosse inteiramente minha, a empregar a anáfora do poeta Augusto
Meira Filho, tratá-la-ia com muito mais zelo e carinho. Pois é uma velha
senhora – afinal, em 12 de janeiro de 2016, no ano que vem portanto, completará
exatos 400 anos! E preservaria com maior apreço as suas belezas históricas, sua
culinária ímpar e o seu cheiro de patchouli inconfundível.
Belém merece maior respeito de seus moradores: que os insensatos parem
de pichá-la aos quatro cantos, que a prefeitura providencie pontos de coleta
dos resíduos em maior número pela cidade, e que os seus habitantes se abstenham
de jogar o lixo que produziram onde bem lhes aprouver. Assim Belém se habilita
a resgatar a sua beleza e encanto! Para mais cem anos!
J.A.R. – H.C.
Augusto Ebremer de Bastos Meira
(SAVARY, 2001, p. 98-99)
Poeta e escritor, de tradicional
família ligada às letras, Augusto Meira Filho (Belém, 1915-1980) era filho do
poeta Augusto Meira. Iniciou os estudos com os Irmãos Maristas, no Instituto
Nossa Senhora de Nazaré. Fez o curso ginasial no Ginásio Paes de Carvalho e
engenharia na Escola de Engenharia do Pará, em 1938, formando-se numa das
primeiras turmas. Foi secretário da Assembleia Legislativa, em 1935,
acompanhando de perto o desenrolar dos acontecimentos políticos que tumultuaram
o Estado.
Técnico do Departamento de Serviço
Público, foi nomeado, em 1943, diretor do então Serviço Estadual de Águas,
depois departamento e hoje Cosanpa, onde introduziu uma série de melhoramentos
nos mananciais do Utinga e Água Preta, e na rede de bombeamento e distribuição,
aí permanecendo por cerca de dez anos.
Foi vereador na Câmara Municipal de
Belém e seu presidente. Conseguiu aprovação de vários projetos de sua autoria
visando a preservação arquitetônica e paisagística de Belém. Também
historiador, pertenceu à APL, sendo sua cadeira posteriormente ocupada por
Carlos Rocque.
A contribuição literária de Meira Filho
é bastante vasta, não somente tratando da historiografia da região, como
poética, nos versos em que sempre exaltava a sua Belém, daí ter recebido o
título de “Namorado de Belém”.
Embora fosse poeta
moderno, liberto de metro e rima, não abandonou o soneto. Expressava seus
sentimentos, externados em versos soltos e melódicos, em sonetos e poemas
longos, exaltando a cidade que o viu nascer e crescer, mas com a reprimenda aos
que dilapidaram Belém. Os poemas apresentados pertencem a seu livro Meu Canto
de Rua, publicado postumamente, poemas esses que ele divulgou pela imprensa.
Era o editor de uma página semanal em A Província do Pará, dominical, durante
anos. Publicou inúmeros artigos e conferências pela imprensa. E vários livros.
Augusto Meira Filho
(1915-1980)
Belém
Se Belém fosse
inteiramente minha
Jogaria longe de meus
olhos úmidos
Para que não visse as
lágrimas
Que embeberiam a
terra.
Se Belém fosse
inteiramente minha
Guardaria dentro do
peito solitário
Com a unção de um
velho relicário
Pulsando o coração.
Se Belém fosse
inteiramente minha
Quando eu morresse
A levaria comigo no
aroma das margaridas.
Se Belém fosse
inteiramente minha,
Daria um grito tão
alto acordando toda a mata
E as tribos na
solidão.
Se Belém fosse
inteiramente minha
Diria ao índio: é
tua.
E no sussurro dos
ventos
Exílio dos desalentos
Seguiria o meu
destino...
No bojo das
caravelas.
Mercado do Ver-o-Peso
(Belém - PA)
Referência:
MEIRA FILHO, Augusto. Belém. In:
SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia
do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 100.
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