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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Poetas do Grão-Pará (V) - Iverson Carneiro

Temos aqui mais um poeta paraense, a se comprazer em aprimorar o seu ofício do verso. E logo com uma das formas canônicas da expressão poética: o soneto. Mais ainda: um soneto exatamente sobre a estrutura, a forma e a ideia do próprio soneto. Diríamos assim, metassoneto!

O poeta nos diz que vai ao encontro de uma paixão imoderada no ato de sua escrita. E exatamente ali, reinventa o amor pela luxúria. Mas, pensamos, talvez o poema tenha fica bem aquém dos efeitos desbragadamente libertinos de um Aretino ou de um Glauco Mattoso. Nesse contexto, parodiemos para todos os efeitos o Caetano Veloso: “Onde queres pudico, eu sou devasso”. Que isso valha para os poemas fixados no porvir. E segue a vida, com todo o prazer (rs)!

J.A.R. – H.C.

Iverson Medeiros Carneiro
(SAVARY, 2001, p. 208)

Nascido em Belém, Iverson passou um tempo da infância em Bragança. Seu primeiro contato com a poesia foi através do poeta Rodrigues Pinagé, razão pela qual lhe é dedicado o poema “Infância”, tirado de seu livro de poesia Observâncias do Rio e Outros Avulsos, reproduzido aqui. Antes desse livro, publicou sete livretos e um pôster, a partir de 1981. Além de poemas, teve outros trabalhos, como crônica e artigos, publicados em jornais e revistas do Brasil inteiro.
Iniciou carreira no teatro, em 1974, e começou a escrever em 1976. Fundador do extemporâneo Movimento da Poesia Marginal da Paraíba, participou, juntamente com Pedro Osmar, Chico César e outros, do Projeto Lá vem a Moçada pelas Ruas da Cidade, embrião do MEI – Movimento dos Escritores Independentes da Paraíba, que, em fins dos anos 70 e começo dos 80, realizava performances pelas ruas e praças de João Pessoa.
Participou do primeiro e segundo festivais nacionais de poesia de rua, em 83 e 84, era Salvador e Vitória, do I Festival Latino-americano de Poesia Alternativa, em 84, em Rosário, Argentina, e das comemorações do aniversário do poeta Castro Alves (Dia Nacional da Poesia), em 14 de março de 87, em Salvador.
Em 1993 recebeu da Prefeitura Municipal de São Gonçalo-RJ, o troféu Paulo Roberto Amaral (Prêmio Destaques da Cultura), como poeta que mais se destacou durante o ano, na cidade.
Atualmente, orienta a Oficina de Teatro do Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, RJ, onde reside, e participa da equipe de implantação do CEAL (Centro de Artes do Liceu).
Iverson trabalha com a palavra em metapoemas, com dicção erótica e social.

Iverson Carneiro
(n. 1957)

Soneto Sobre o Soneto

Compondo a estrofe sob forma de quarteto
espreme o poeta da cabeça a harmonia.
Vibra, qual demônio, enfurecido de alegria,
despreza toda forma de poema obsoleto.

A segunda estrofe, ainda quarteto, sangra
pelos poros do papel, todo branco de vaidade.
Postadas as letras, numa só linearidade,
reescreve, contente, as estórias de cassandra.

Dispara pelas teclas da máquina a fagulha
da palavra que acende com a beleza de um hino
o penúltimo terceto do poema alexandrino.

E restaurada na pena a pureza do soneto,
construído com paixão o seu último terceto,
reinventa, no verso, o amor pela luxúria.

O Soneto
(Thomas Baker: pintor inglês)

Referência:

CARNEIRO, Iverson. Soneto sobre o soneto. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 209.

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