Temos aqui mais um poeta paraense, a se comprazer em aprimorar o seu
ofício do verso. E logo com uma das formas canônicas da expressão poética: o
soneto. Mais ainda: um soneto exatamente sobre a estrutura, a forma e a ideia
do próprio soneto. Diríamos assim, metassoneto!
O poeta nos diz que vai ao encontro de uma paixão imoderada no ato de
sua escrita. E exatamente ali, reinventa o amor pela luxúria. Mas, pensamos,
talvez o poema tenha fica bem aquém dos efeitos desbragadamente libertinos de
um Aretino ou de um Glauco Mattoso. Nesse contexto, parodiemos para todos os
efeitos o Caetano Veloso: “Onde queres pudico, eu sou devasso”. Que isso valha
para os poemas fixados no porvir. E segue a vida, com todo o prazer (rs)!
J.A.R. – H.C.
Iverson Medeiros Carneiro
(SAVARY, 2001, p.
208)
Nascido em Belém, Iverson passou um
tempo da infância em Bragança. Seu primeiro contato com a poesia foi através do
poeta Rodrigues Pinagé, razão pela qual lhe é dedicado o poema “Infância”,
tirado de seu livro de poesia Observâncias
do Rio e Outros Avulsos, reproduzido aqui. Antes desse livro, publicou sete
livretos e um pôster, a partir de 1981. Além de poemas, teve outros trabalhos,
como crônica e artigos, publicados em jornais e revistas do Brasil inteiro.
Iniciou carreira no teatro, em 1974, e
começou a escrever em 1976. Fundador do extemporâneo Movimento da Poesia
Marginal da Paraíba, participou, juntamente com Pedro Osmar, Chico César e
outros, do Projeto Lá vem a Moçada pelas
Ruas da Cidade, embrião do MEI – Movimento dos Escritores Independentes da
Paraíba, que, em fins dos anos 70 e começo dos 80, realizava performances pelas
ruas e praças de João Pessoa.
Participou do primeiro e segundo
festivais nacionais de poesia de rua, em 83 e 84, era Salvador e Vitória, do I
Festival Latino-americano de Poesia Alternativa, em 84, em Rosário, Argentina,
e das comemorações do aniversário do poeta Castro Alves (Dia Nacional da Poesia),
em 14 de março de 87, em Salvador.
Em 1993 recebeu da Prefeitura Municipal
de São Gonçalo-RJ, o troféu Paulo Roberto Amaral (Prêmio Destaques da Cultura),
como poeta que mais se destacou durante o ano, na cidade.
Atualmente, orienta a Oficina de Teatro
do Liceu Nilo Peçanha, em Niterói, RJ, onde reside, e participa da equipe de
implantação do CEAL (Centro de Artes do Liceu).
Iverson trabalha com
a palavra em metapoemas, com dicção erótica e social.
Iverson Carneiro
(n. 1957)
Soneto Sobre o Soneto
Compondo a estrofe
sob forma de quarteto
espreme o poeta da
cabeça a harmonia.
Vibra, qual demônio,
enfurecido de alegria,
despreza toda forma
de poema obsoleto.
A segunda estrofe,
ainda quarteto, sangra
pelos poros do papel,
todo branco de vaidade.
Postadas as letras,
numa só linearidade,
reescreve, contente,
as estórias de cassandra.
Dispara pelas teclas
da máquina a fagulha
da palavra que acende
com a beleza de um hino
o penúltimo terceto
do poema alexandrino.
E restaurada na pena
a pureza do soneto,
construído com paixão
o seu último terceto,
reinventa, no verso, o amor pela luxúria.
reinventa, no verso, o amor pela luxúria.
O Soneto
(Thomas Baker: pintor
inglês)
Referência:
CARNEIRO, Iverson. Soneto sobre o
soneto. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001.
p. 209.
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