Com saudades de Belém do Pará, sem poder lá ir nos próximos meses, trazemos
para fazê-la lembrar, durante uma semana, os seus inspirados poetas, a tecerem loas às suas mangueiras, chuvas, clima tépido, procissões.
Começamos com a poetisa marajoara Adalcinda Camarão, a aludir, em sua
menção, à flora e à fauna, sempre onipresentes no ambiente amazônico: árvores
sem conta, papagaios e o gado que, a julgar pelas origens de Adalcinda, faz
referência direta à ilha natal do Marajó.
J.A.R. – H.C.
Adalcinda Magno Camarão Luxardo
(SAVARY, 2001, p.
38-39)
Estudou em Belém no Colégio Pedro II e
no Instituto de Educação. Escreveu para rádio, teatro e todas as revistas da
Amazônia desde os dez anos de idade. No ano de 1938, Cléo Bernardo e um grupo
de colegas da Faculdade de Direito fundaram Terra Imatura, revista mensal de
estudantes, cujo título foram buscar em um romance regionalista de Alfredo
Ladislau. Terra Imatura ganhou importância nas letras paraenses, onde
despontavam Adalcinda e sua irmã Celeste Camarão, Dulcinéa Paraense, Mirian
Morais, Paulo Plínio Abreu, Ruy Barata e outros mais, na poesia, alguns
formando a redação da revista.
Em 19S6 Adalcinda viajou para os EUA
com Bolsa de Estudo (Award) oferecida pelo Departamento de Estado com o
Departamento de Educação e recomendada pela embaixada americana no Brasil. Fez
mestrado em Educação e Linguística (American
University e Catholic University, EUA, de 1956 a 19S9). Recebida como
membro efetivo e perpétuo da Academia Paraense de Letras em janeiro de 1959.
Casou-se com Libero Luxardo, também da Academia Paraense de Letras. De 1956 a
58 trabalhou em conferências e entrevistas para a Voice of America, em
Washington, D.C., onde permanece radicada até hoje.
De 1957 a 60 ensinou
Português para estrangeiros, na La Case
Academy of Languages e Sanz School.
Em 1960 abriu o Departamento de Português da Georgetown University (Institute
of Languages and Linguistics), onde também ensinou Literatura do Brasil e
de Portugal, de 1960 a 1965. Lecionou Português na American University em 1974 e 1975; na Graduate School of the Agriculture Department, de 1966 a 1977; na
Casa Branca, para assistentes dos presidentes Nixon e Ford, em 1974 e 1975; na Arlington Adult Education, 1986, 1987 e
1988. Trabalhou na embaixada do Brasil,
em Washington D.C., de 1961 a 1988.
Adalcinda Camarão
(Muaná, Ilha de
Marajó, 18.7.1914 – Belém, 17.1.2005)
Anseio
Ah, eu quisera ser
aquela árvore
coberta pelas garças
brancas de voo incerto!
Árvore plantada pelo
acaso
à margem do rio
enorme!
Árvore de frondes
anantos,
desejosa, quase
humana,
que se arrepia ao
contato
das penas dos
papagaios que passam!
Árvore que tem o
grande amor do vento
e que dá sombra para
o gado descansar.
Árvore estéril,
árvore bela, árvore fresca,
árvore amante de
todos os crepúsculos,
no solstício do
inverno ou do verão,
Árvore do pensamento
das outras árvores!
A Fundação da cidade de N. Sra. de Belém do Pará
(Theodoro Braga: pintor belenense)
Referência:
LUXARDO, Adalcinda Magno Camarão.
Anseio. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001.
p. 40.
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