Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 19 de julho de 2015

Poetas do Grão-Pará (I): Adalcinda Camarão

Com saudades de Belém do Pará, sem poder lá ir nos próximos meses, trazemos para fazê-la lembrar, durante uma semana, os seus inspirados poetas, a tecerem loas às suas mangueiras, chuvas, clima tépido, procissões.

Começamos com a poetisa marajoara Adalcinda Camarão, a aludir, em sua menção, à flora e à fauna, sempre onipresentes no ambiente amazônico: árvores sem conta, papagaios e o gado que, a julgar pelas origens de Adalcinda, faz referência direta à ilha natal do Marajó.

J.A.R. – H.C.

Adalcinda Magno Camarão Luxardo
(SAVARY, 2001, p. 38-39)

Estudou em Belém no Colégio Pedro II e no Instituto de Educação. Escreveu para rádio, teatro e todas as revistas da Amazônia desde os dez anos de idade. No ano de 1938, Cléo Bernardo e um grupo de colegas da Faculdade de Direito fundaram Terra Imatura, revista mensal de estudantes, cujo título foram buscar em um romance regionalista de Alfredo Ladislau. Terra Imatura ganhou importância nas letras paraenses, onde despontavam Adalcinda e sua irmã Celeste Camarão, Dulcinéa Paraense, Mirian Morais, Paulo Plínio Abreu, Ruy Barata e outros mais, na poesia, alguns formando a redação da revista.
Em 19S6 Adalcinda viajou para os EUA com Bolsa de Estudo (Award) oferecida pelo Departamento de Estado com o Departamento de Educação e recomendada pela embaixada americana no Brasil. Fez mestrado em Educação e Linguística (American University e Catholic University, EUA, de 1956 a 19S9). Recebida como membro efetivo e perpétuo da Academia Paraense de Letras em janeiro de 1959. Casou-se com Libero Luxardo, também da Academia Paraense de Letras. De 1956 a 58 trabalhou em conferências e entrevistas para a Voice of America, em Washington, D.C., onde permanece radicada até hoje.
De 1957 a 60 ensinou Português para estrangeiros, na La Case Academy of Languages e Sanz School. Em 1960 abriu o Departamento de Português da Georgetown University (Institute of Languages and Linguistics), onde também ensinou Literatura do Brasil e de Portugal, de 1960 a 1965. Lecionou Português na American University em 1974 e 1975; na Graduate School of the Agriculture Department, de 1966 a 1977; na Casa Branca, para assistentes dos presidentes Nixon e Ford, em 1974 e 1975; na Arlington Adult Education, 1986, 1987 e 1988. Trabalhou na embaixada do Brasil, em Washington D.C., de 1961 a 1988.

Adalcinda Camarão
(Muaná, Ilha de Marajó, 18.7.1914 – Belém, 17.1.2005)

Anseio

Ah, eu quisera ser aquela árvore
coberta pelas garças brancas de voo incerto!
Árvore plantada pelo acaso
à margem do rio enorme!
Árvore de frondes anantos,
desejosa, quase humana,
que se arrepia ao contato
das penas dos papagaios que passam!
Árvore que tem o grande amor do vento
e que dá sombra para o gado descansar.
Árvore estéril, árvore bela, árvore fresca,
árvore amante de todos os crepúsculos,
no solstício do inverno ou do verão,
Árvore do pensamento das outras árvores!

A Fundação da cidade de N. Sra. de Belém do Pará
(Theodoro Braga: pintor belenense)

Referência:

LUXARDO, Adalcinda Magno Camarão. Anseio. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 40.

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