Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 13 de julho de 2015

Millôr Fernandes - Gato ao Crepúsculo

Em associação ao famoso ditado “À noite, todos os gatos são pardos.”, Millôr Fernandes, com o seu habitual senso hilário, formula sentenças sobre gatos de várias cores: branco, amarelo, preto.

E ambienta o seu poema exatamente no momento mesmo em que o dia avança do final da tarde à noite fechada, quando o sol parte e a ausência de sua luz traz a penumbra, a tornar incerta qualquer especificação irrefutável da cor dos felinos sobre os muros que separam as residências.

J.A.R. – H.C.

Millôr Fernandes
Caricatura
(1923-2012)

Gato ao Crepúsculo
Poeminha de louvor ao pior inimigo do cão

Gato manso, branco,
Vadia pela casa,
Sensual, silencioso, sem função.

Gato raro, amarelado,
Feroz se o irritam,
Suficiente na caça à alimentação.

Gato preto, pressago,
Surgindo inesperado
Das esquinas da superstição.

Cai o sol sobre o mar.

E nas sombras de mais uma noite,
Enquanto no céu os aviões
Acendem experimentalmente suas luzes verde-vermelho-verde,
Terminam as diferenças raciais.

Da janela da tarde olho os banhistas tardos
Enquanto, junto ao muro do quintal,
Os gatos todos vão ficando pardos.

14/6/1959

Gravura extraída da
obra em referência (p. 77)

Referência:

FERNANDES, Millôr. Gato ao crepúsculo. In: __________. Essa cara não me é estranha e outros poemas. 1. ed. São Paulo, SP: Boa Companhia, 2014. p. 76.
ö

Nenhum comentário:

Postar um comentário