Em associação ao famoso ditado “À noite, todos os gatos são pardos.”,
Millôr Fernandes, com o seu habitual senso hilário, formula sentenças sobre
gatos de várias cores: branco, amarelo, preto.
E ambienta o seu poema exatamente no momento mesmo em que o dia avança
do final da tarde à noite fechada, quando o sol parte e a ausência de sua luz
traz a penumbra, a tornar incerta qualquer especificação irrefutável da cor dos
felinos sobre os muros que separam as residências.
J.A.R. – H.C.
Millôr Fernandes
Caricatura
(1923-2012)
Gato ao Crepúsculo
Poeminha de louvor ao pior inimigo do
cão
Gato manso, branco,
Vadia pela casa,
Sensual, silencioso,
sem função.
Gato raro, amarelado,
Feroz se o irritam,
Suficiente na caça à
alimentação.
Gato preto, pressago,
Surgindo inesperado
Das esquinas da
superstição.
Cai o sol sobre o
mar.
E nas sombras de mais
uma noite,
Enquanto no céu os
aviões
Acendem
experimentalmente suas luzes verde-vermelho-verde,
Terminam as
diferenças raciais.
Da janela da tarde
olho os banhistas tardos
Enquanto, junto ao
muro do quintal,
Os gatos todos vão
ficando pardos.
14/6/1959
Gravura extraída da
obra em referência (p. 77)
Referência:
FERNANDES, Millôr. Gato ao crepúsculo.
In: __________. Essa cara não me é
estranha e outros poemas. 1. ed. São Paulo, SP: Boa Companhia, 2014. p. 76.
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