Giuseppe Ungaretti, um dos grandes poetas italianos, ainda é inédito nestas paragens. E uma vez que deparei com algumas traduções de seus poemas numa coletânea de Henriqueta Lisboa, aproveito, e apresento-o neste momento.
O poeta está em busca de um país inocente, uma vez que, a cada vez que se acostuma com o clima da terra em que alojado, enfraquece-se e se torna dela estrangeiro, partindo, então, de volta a épocas vívidas de seu momento inicial. Perguntamos: trata-se de um clima real ou imaginário?; seu regresso é para a sua Alexandria natal, ou um retorno aos domínios da infância?
Optamos por interpretar o poema com a segunda opção: afinal, é ou na meninice que se encontra um dos poucos países em que a inocência faz seu posto?
J.A.R. – H.C.
Giuseppe
Ungaretti
(1888-1970)
Girovago
In nessuna
parte
di terra
mi posso
accasare
A ogni
nuovo
clima
che incontro
mi trovo
languente
che
una volta
già gli ero stato
assuefatto
E me ne stacco sempre
straniero
Nascendo
tornato da epoche troppo
vissute
Godere un solo
minuto di vita
iniziale
Cerco un paese
innocente
(Campo di Mailly – Maggio
1918)
Inocência infantil:
primavera
(Donald Zolan: artista norte-americano)
Vagamundo
Em nenhuma
parte
da terra
posso
alojar-me
A cada
novo
clima
que se me depara
sinto-me languescer
uma vez
que
a ele já me havia estado
afeito
E me afasto sempre
estrangeiro
Nascendo
de volta a épocas demasiado
vívidas
Gozar um só
minuto de vida
inicial
Busco um país
inocente
Referência:
UNGARETTI, Giuseppe. Girovago /
Vagamundo. In: LISBOA, Henriqueta. Poesia
traduzida. Organização, introdução e notas de Reinaldo Marques e Maria
Eneida Victor Farias. Edição bilíngue. Belo Horizonte, MG: Ed. UFMG, 2001. Em
italiano: p. 250; em português: p. 251. (Inéditos & Esparsos)
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