Augusto Schmidt, poeta carioca, também entrou no mérito da beleza e do
seu destino. Sua perspectiva não deixa de ter um quê de metafísico, algo
alinhado à teoria das formas ou das ideias de Platão.
Em toda a sua efemeridade, desde que presente em coisas cuja realidade
se mostra finita, Schmidt sai-se muito bem ao se reportar ao que é belo –
poeticamente como não poderia deixar de ser!: atribui ao Eterno o poder de
manter pela eternidade as manifestações de beleza que recolhe do movimento e da
matéria.
J.A.R. – H.C.
Augusto Frederico Schmidt
(1906-1965)
Destino da Beleza
Quando o tempo desfaz
as formas perecíveis
Para onde vai, qual o
destino da Beleza,
Qual a expressão da
própria identidade?
Na hora da libertação
das formas,
Qual o destino da
Beleza, que as formas puras realizaram?
Qual o destino do que
é eterno
Mas está consignado
no efêmero,
No momento inexorável
da purificação?
A Beleza não morre.
Não importa que o seu
caminho
Seja visitado pela
destruição, que é a própria lei,
E pelas sombras.
A Beleza não morre,
Deus recolhe as
flores que o tempo desfolha;
Deus recolhe a música
das fisionomias
que o tempo escurece
e silencia;
Deus recolhe o que
venceu as substâncias frágeis
E realizou o milagre
do Espírito Impassível
no movimento e na
matéria.
Deus recolhe a
Beleza, como o corpo absorve a sua sombra
Na hora em que a luz
realiza o seu destino de unidade e pureza.
Beleza Russa
(Alexei Alexeivich
Harlamoff: pinto russo)
Referência:
SCHMIDT, Augusto Frederico. Destino da
beleza. In: __________. Antologia
poética. Seleção de Waldir Ribeiro do Val. Rio de Janeiro, GB: Ed. Leitura,
1962. p. 60.
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