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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 25 de julho de 2015

Poetas do Grão-Pará (VII) - Joaquim-Francisco Coelho

Para finalizar esta semana de postagens com poemas de autores que nasceram no Grão-Pará, selecionamos um poema que homenageia o grande escritor argentino Jorge Luis Borges, no momento mesmo de seu passamento.

O seu autor, o poeta Joaquim-Francisco Coelho, retrata muito bem as particularidades da personalidade de Borges, suas preferências temáticas, cegueira vespertina, a aficção por espelhos e labirintos. Ao final, carreia ao Eterno um atributo meio insólito: seria cego como Borges. Se a justiça é cega e algo que tange as cordas do divino, eis aí o que seria uma bela metáfora. Algo como se estivéssemos a fazer justiça ao escritor do país vizinho, que não se sabem quais os motivos, não foi agraciado com um Nobel!

J.A.R. – H.C.

Joaquim-Francisco Coelho
(SAVARY, 2001, p. 227)

Além de grande poeta, é excelente crítico. Transferindo-se para os Estados Unidos da América do Norte há vários anos, foi professor de literatura luso-brasileira e espanhola na Universidade de Stanford, Califórnia, anteriormente, e hoje é catedrático de literatura luso-brasileira e comparada da Universidade de Harvard.
Tem muitas obras publicadas sobre escritores relevantes, entre os quais Virgílio, Camões, Antero de Quental, Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Sena e Jorge Luís Borges.
Fora estes livros de ensaio e crítica do estudioso sério que Joaquim-Francisco é, encontra-se no prelo um seu livro de poemas intitulado Os Meus Orfeus, seleção de peças celebratórias (tanto editas quanto inéditas) da obra e da personalidade criadora de escritores e artistas que lhe são particularmente familiares. Pertencem a este livro inédito os poemas que aqui se apresentam nesta antologia de poesia paraense, selecionados pelo próprio autor, a meu pedido insistente.
Joaquim-Francisco Coelho: poeta, crítico, professor. Em todas estas áreas em que atua, com louvor, nos dá motivos de sobra para, como brasileiros e paraenses, nos orgulharmos da brilhante carreira que ele desenvolve lá fora, protótipo da inteligência e da criatividade brasileiras tão nossas.

Joaquim-Francisco Coelho
(n. 1938)

Na morte de Jorge Luis Borges

Com teu passo de cego e tua bengala
tu ascendes ao último recinto
buscando pelo tato e pelo instinto
penetrar o segredo desta sala

Aqui se encontra a sombra que não fala
aqui te aguarda o Tempo agora extinto
aqui o construtor do labirinto
abre-te a porta ao Livro da Cabala

Entras e vês (por trás da tua cegueira)
que o mistério da sala derradeira
jaz no livro e no rosto que ele tem

No livro em cuja estranha cercadura
a tua face de Borges configura
o semblante de Deus – cego também

Jorge Luis Borges
(Alejandro Cabeza: pintor catalão)

Referência:

COELHO, Joaquim-Francisco. Na morte de Jorge Luís Borges. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 228.

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