Para finalizar esta semana de postagens com poemas de autores que
nasceram no Grão-Pará, selecionamos um poema que homenageia o grande escritor
argentino Jorge Luis Borges, no momento mesmo de seu passamento.
O seu autor, o poeta Joaquim-Francisco Coelho, retrata muito bem as
particularidades da personalidade de Borges, suas preferências temáticas,
cegueira vespertina, a aficção por espelhos e labirintos. Ao final, carreia ao
Eterno um atributo meio insólito: seria cego como Borges. Se a justiça é cega e
algo que tange as cordas do divino, eis aí o que seria uma bela metáfora. Algo
como se estivéssemos a fazer justiça ao escritor do país vizinho, que não se
sabem quais os motivos, não foi agraciado com um Nobel!
J.A.R. – H.C.
Joaquim-Francisco Coelho
(SAVARY, 2001, p.
227)
Além de grande poeta, é excelente
crítico. Transferindo-se para os Estados Unidos da América do Norte há vários
anos, foi professor de literatura luso-brasileira e espanhola na Universidade
de Stanford, Califórnia, anteriormente, e hoje é catedrático de literatura
luso-brasileira e comparada da Universidade de Harvard.
Tem muitas obras publicadas sobre
escritores relevantes, entre os quais Virgílio, Camões, Antero de Quental,
Fernando Pessoa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Jorge de Sena e
Jorge Luís Borges.
Fora estes livros de ensaio e crítica
do estudioso sério que Joaquim-Francisco é, encontra-se no prelo um seu livro
de poemas intitulado Os Meus Orfeus,
seleção de peças celebratórias (tanto editas quanto inéditas) da obra e da
personalidade criadora de escritores e artistas que lhe são particularmente
familiares. Pertencem a este livro inédito os poemas que aqui se apresentam
nesta antologia de poesia paraense, selecionados pelo próprio autor, a meu
pedido insistente.
Joaquim-Francisco
Coelho: poeta, crítico, professor. Em todas estas áreas em que atua, com
louvor, nos dá motivos de sobra para, como brasileiros e paraenses, nos
orgulharmos da brilhante carreira que ele desenvolve lá fora, protótipo da
inteligência e da criatividade brasileiras tão nossas.
Joaquim-Francisco Coelho
(n. 1938)
Na morte de Jorge Luis Borges
Com teu passo de cego
e tua bengala
tu ascendes ao último
recinto
buscando pelo tato e
pelo instinto
penetrar o segredo
desta sala
Aqui se encontra a
sombra que não fala
aqui te aguarda o
Tempo agora extinto
aqui o construtor do
labirinto
abre-te a porta ao
Livro da Cabala
Entras e vês (por
trás da tua cegueira)
que o mistério da
sala derradeira
jaz no livro e no
rosto que ele tem
No livro em cuja
estranha cercadura
a tua face de Borges
configura
o semblante de Deus –
cego também
Jorge Luis Borges
(Alejandro Cabeza: pintor catalão)
Referência:
COELHO, Joaquim-Francisco. Na morte de
Jorge Luís Borges. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001.
p. 228.
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