Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Charles Baudelaire - Da Poesia

Temos aqui um pensamento do poeta de “As Flores do Mal” sobre a poesia. Segundo ele, a poesia tem o dom de demarcar a diferença entre os espíritos de primeira ordem e os de segunda.

Os que a apreciam, decerto, estão em boa ordem com o poeta, que, ademais, incita, inflama as almas que surfam nas ondas do despeito: “Meu desafio aos invejosos é que me citem os bons versos que tenham arruinado um editor”. Arrojado, o gajo, não?!

J.A.R. – H.C.

Charles Baudelaire
(1821-1867)

VII. Da Poesia

Quanto àqueles que se entregam ou se entregaram com sucesso à poesia, aconselho-os que nunca a abandonem. A poesia é uma das artes que mais rendem, mas, ao mesmo tempo, uma espécie de investimento em cujos lucros – em compensação, bem vultosos – só se toca tarde.
Meu desafio aos invejosos é que me citem os bons versos que tenham arruinado um editor.
Do ponto de vista moral, a poesia estabelece uma tal demarcação entre os espíritos de primeira ordem e os de segunda que nem o público mais burguês escapa à sua influência despótica. Conheço algumas pessoas que leem os folhetins de Théophile Gautier só porque ele fez a Comédia da Morte; sem dúvida, elas não sentem todas as graças dessa obra, mas sabem que ele é poeta.
Aliás, o que tem de surpreendente, se todo homem com saúde pode passar dois dias sem comida e sem poesia – nenhum?
A arte que satisfaz a necessidade mais imperiosa sempre será a mais honrada.

Ela sonha em cores
(Shelly Penko: artista norte-americana)

Referência:

BAUDELAIRE, Charles. VII. Da poesia. In: __________. O esplim de Paris: pequenos poemas em prosa e outros escritos. Conselhos aos jovens literatos. Tradução Oleg Almeida. São Paulo: Martin Claret, 2010. p. 146-147. (Coleção MC Clássicos de Bolso: literatura universal, n. 4)

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