Temos aqui um pensamento do poeta de “As Flores do Mal” sobre a poesia.
Segundo ele, a poesia tem o dom de demarcar a diferença entre os espíritos de
primeira ordem e os de segunda.
Os que a apreciam, decerto, estão em boa ordem com o poeta, que,
ademais, incita, inflama as almas que surfam nas ondas do despeito: “Meu
desafio aos invejosos é que me citem os bons versos que tenham arruinado um
editor”. Arrojado, o gajo, não?!
J.A.R. – H.C.
Charles Baudelaire
(1821-1867)
VII. Da Poesia
Quanto àqueles que se entregam ou se
entregaram com sucesso à poesia, aconselho-os que nunca a abandonem. A poesia é
uma das artes que mais rendem, mas, ao mesmo tempo, uma espécie de investimento
em cujos lucros – em compensação, bem vultosos – só se toca tarde.
Meu desafio aos invejosos é que me
citem os bons versos que tenham arruinado um editor.
Do ponto de vista moral, a poesia
estabelece uma tal demarcação entre os espíritos de primeira ordem e os de
segunda que nem o público mais burguês escapa à sua influência despótica.
Conheço algumas pessoas que leem os folhetins de Théophile Gautier só porque
ele fez a Comédia da Morte; sem
dúvida, elas não sentem todas as graças dessa obra, mas sabem que ele é poeta.
Aliás, o que tem de surpreendente, se
todo homem com saúde pode passar dois dias sem comida e sem poesia – nenhum?
A arte que satisfaz a
necessidade mais imperiosa sempre será a mais honrada.
Ela sonha em cores
(Shelly Penko:
artista norte-americana)
Referência:
BAUDELAIRE, Charles. VII. Da poesia.
In: __________. O esplim de Paris:
pequenos poemas em prosa e outros escritos. Conselhos aos jovens literatos.
Tradução Oleg Almeida. São Paulo: Martin Claret, 2010. p. 146-147. (Coleção MC
Clássicos de Bolso: literatura universal, n. 4)
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