Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Poetas do Grão-Pará (II) - Ademir Braz

Viver o seu tempo e nele consumir-se como uma sarça ardente, tal como na indefectível alegoria bíblica inscrita no livro do Êxodo: se a metáfora for completa, o ato de se consumir sem se esgotar representaria, a nossa ver, a presumível permanência da memória.

O poeta se exprime de forma a demarcar a linha do seu próprio ser, daquilo que o compõe e o que apenas faz parte do meio, no aqui e agora. Mas não só: também daquilo que não é, por estar num futuro incognoscível.

J.A.R. – H.C.

Ademir Braz
(SAVARY, 2001, p. 42)

Poeta, contista e cronista, militou, durante mais de dois anos, no jornalismo de A Província do Pará, de onde saiu para o funcionalismo público em sua cidade natal. Como jornalista, passou por outros jornais de Belém. Trabalhou como secretário parlamentar na Assembleia Legislativa do Estado, em Belém.
Viveu e conviveu, convive ainda com o drama de sua gente paraoara em uma região maltratada pelas enchentes e pela violência nos campos e nos garimpos. Seus textos pulsam, intensamente, sobre este drama de região tão vilipendiada.
Em 1981 publicou “Esta Terra”, livro de poesia de pouca divulgação e sofrível distribuição.
Em 1991 venceu o Edital de Literatura da Secretaria de Cultura do Estado com o livro de poesia “Encruzilhada do Sol” que não chegou a ser publicado.
Atualmente voltou a morar em Marabá.

Ademir Braz
(n. 1947)

Fluxograma

Não me peçam virtudes.
Essas, não as tenho.

Não como se compreende
a virtude: coerência,
rito aceito, sensatez.

Sou insensato, eis tudo.

A cada dia sou outro:
erro com a rosa dos ventos.

Não me peçam fronteiras
nem definições, fidelidades.

Meu olho sangra muros e o Ser
expõe-se ao tempo, tempestades.

Sou hoje aqui e o agora.
Outros serei amanhã e depois
de amanhã o sol revelará
a face que ainda não me sei.

Só quero viver o meu tempo,
consumir-me – sarça ardente.

Porque é inútil quem não vive
o seu tempo.

Sarça Ardente
Deana Harvey: artista norte-americana

Referência:

BRAZ, Ademir. Fluxograma. In: SAVARY, Olga (Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará. Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 45.

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