Viver o seu tempo e nele consumir-se como uma sarça ardente, tal como na
indefectível alegoria bíblica inscrita no livro do Êxodo: se a metáfora for
completa, o ato de se consumir sem se esgotar representaria, a nossa ver, a presumível
permanência da memória.
O poeta se exprime de forma a demarcar a linha do seu próprio ser,
daquilo que o compõe e o que apenas faz parte do meio, no aqui e agora. Mas não
só: também daquilo que não é, por estar num futuro incognoscível.
J.A.R. – H.C.
Ademir Braz
(SAVARY, 2001, p. 42)
Poeta, contista e cronista, militou,
durante mais de dois anos, no jornalismo de A Província do Pará, de onde saiu
para o funcionalismo público em sua cidade natal. Como jornalista, passou por
outros jornais de Belém. Trabalhou como secretário parlamentar na Assembleia
Legislativa do Estado, em Belém.
Viveu e conviveu, convive ainda com o
drama de sua gente paraoara em uma região maltratada pelas enchentes e pela
violência nos campos e nos garimpos. Seus textos pulsam, intensamente, sobre
este drama de região tão vilipendiada.
Em 1981 publicou “Esta Terra”, livro de
poesia de pouca divulgação e sofrível distribuição.
Em 1991 venceu o Edital de Literatura
da Secretaria de Cultura do Estado com o livro de poesia “Encruzilhada do Sol”
que não chegou a ser publicado.
Atualmente voltou a
morar em Marabá.
Ademir Braz
(n. 1947)
Fluxograma
Não me peçam
virtudes.
Essas, não as tenho.
Não como se compreende
a virtude: coerência,
rito aceito,
sensatez.
Sou insensato, eis
tudo.
A cada dia sou outro:
erro com a rosa dos
ventos.
Não me peçam
fronteiras
nem definições,
fidelidades.
Meu olho sangra muros
e o Ser
expõe-se ao tempo,
tempestades.
Sou hoje aqui e o
agora.
Outros serei amanhã e
depois
de amanhã o sol
revelará
a face que ainda não
me sei.
Só quero viver o meu
tempo,
consumir-me – sarça
ardente.
Porque é inútil quem
não vive
o seu tempo.
Sarça Ardente
Deana Harvey: artista
norte-americana
Referência:
BRAZ, Ademir. Fluxograma. In: SAVARY, Olga
(Seleção e Notas). Poesia do Grão-Pará.
Rio de Janeiro, RJ: Graphia Editorial, 2001. p. 45.
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