Um interessante exercício de interpretação do que seja uma relação de
amor: há o embate contínuo entre partes mais maleáveis, como a água, com outras
menos rígidas, que o poeta coteja às pedras que oferecem resistência ao fluxo
do rio.
As relações afetivas são bem assim: um jogo de tolerâncias, de respeito
às diferenças, de aceitar as fragilidades humanas como parte inarredável do
vínculo, para que o fluxo vital não se estanque em algum contraforte de mágoas.
J.A.R. – H.C.
Archibald MacLeish
(1892-1982)
Nascido em Illinois,
em 1892, MacLeish, poeta dotado de grande versatilidade, foi também autor
dramático e de peças radiofônicas. Sua celebridade se apoia em alguns poemas
que se tornaram obrigatórios em coletâneas e dentre os quais os que aqui estão
são dos mais famosos. Durante a parte final da sua vida MacLeish projetou sua
atenção para problemas de cunho social. Chefiou a Biblioteca do Congresso em
Washington. Embora considerado poeta essencialmente lírico – assim está nos
poemas selecionados – MacLeish revoltou-se ao ver destruídos os murais de
Rivera no Rockefeller Center por neles se encontrar a incômoda presença de um
retrato de Lênin. Após seu ataque aos monopólios e seus detentores, a esquerda
julgou que o poeta finalmente “aderia”. Mas os poemas subsequentes não chegariam
a satisfazer os ideais políticos entrevistos, tendo o poeta desde aí se pautado
por uma linha que se poderia dizer pacifista. MacLeish morreu em 1982
(WANDERLEY, p. 151).
What any lover
learns
Water is heavy silver over stone.
Water is heavy silver over stone’s
Refusal, It does not fall. It fills. It flows
Every crevice, every fault of the stone,
Every hollow. River does not run.
River presses its heavy silver self
Down into stone and stone refuses.
What runs,
Swirling and leaping into sun, is stone’s
Refusal of the river, not the river.
O que todo amante aprende
A água é pesada prata
sobre a pedra.
A água é pesada prata
sobre a recusa
Da pedra. Ela não
cai. Preenche. Percorre
Cada fenda, cada
falha da pedra,
Cada vazio. O rio não
corre.
O rio dirige sua
essência de prata pesada
Contra a pedra e a
pedra recusa.
O que corre,
Em torvelinhos e
saltos para o sol
É a recusa da pedra
ao rio, não o rio.
Referência:
MACLEISH, Archibald. What any lover learns
/ O que todo amante aprende. In: WANDERLEY, Jorge (Seleção, Tradução e Notas). Antologia da nova poesia norte-americana.
Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 1992. Em inglês: p. 152; em
português: 153.
❁
Bom dia cheguei aqui por causa deste poema do MacLeish que eu não conhecia. Iniciei, há umas duas semanas, a enviar por whatsapp para alguns de meus amigos, um poema falado por mim em audio e sua transcrição. Alguns desses amigos tem respondido com grande generosidade e tem me apresentado poemas que eu não conhecia e também suas vozes, e tem sido maravilhoso. Se quiser entrar nessa roda, acredito que nos daremos bem. Um grande abraço e obrigado pela postagem , eu aproveitei para compartilhar pelo Whatsapp junto com o audio de minha amiga falando lindamente o poema.
ResponderExcluirCaro Edilson,
ResponderExcluirMuito obrigado pelo comentário. Gostei da ideia de vocalização de poemas, muito embora não tenha uma locução muito boa. Mande-me uma mensagem por e-mail (castorp2707@bol.com.br), para que eu lhe informe o número de contato. Valeu.
Um abraço,
João A. Rodrigues
enviei email com meu número. Nos encontraremos por lá.
ResponderExcluirAbraço
Edilson