Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

José Vander Vieira do Nascimento - Deixa a palavra escorregar II

As palavras do poema, enquanto pura criação, existem por si mesmas, não podendo ser reduzidas a explicações, sob pena de se imergir num pélago analítico que, ao esmiuçar o que se passa nos átomos de um galho de árvore, deixa de contemplar a beleza e o encanto de uma floresta inteira: “Um poema não deve significar, mas ser”! (Archibald MacLeish)

 

Porque o poema é também o mistério e a perplexidade em que recai o olhar sobre a linguagem; janela que se abre para o esfíngico; luz e absorção interior; todos os matizes desse caleidoscópico aparato, de algum modo suscetíveis de apreensão: “Um poema deve dispensar palavras, como o voo das aves”.

 

J.A.R. – H.C.

 

José V. V. do Nascimento

(n. 1989)

 

Deixa a palavra escorregar II

 

Analisar

o poema

é tirar

do pássaro

as penas

 

Esmiuçar o

eu passarinho

faz cair

a ave

do ninho

 

Pensar demais

torna anêmico

sem sangue

sem cor:

acadêmico

 

O Pintassilgo

(Carel Fabritius: pintor holandês)

 

Referência:

 

VIEIRA DO NASCIMENTO, José Vander. Deixa a palavra escorregar II. In: MACHADO, Lino et alii. Coletânea de poemas: prêmio Ufes de literatura. Vitória, ES: Edufes, 2015. p. 118. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 jan. 2024. 

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