As palavras do poema,
enquanto pura criação, existem por si mesmas, não podendo ser reduzidas a
explicações, sob pena de se imergir num pélago analítico que, ao esmiuçar o que
se passa nos átomos de um galho de árvore, deixa de contemplar a beleza e o encanto
de uma floresta inteira: “Um poema não deve significar, mas ser”! (Archibald
MacLeish)
Porque o poema é
também o mistério e a perplexidade em que recai o olhar sobre a linguagem;
janela que se abre para o esfíngico; luz e absorção interior; todos os matizes
desse caleidoscópico aparato, de algum modo suscetíveis de apreensão: “Um poema
deve dispensar palavras, como o voo das aves”.
J.A.R. – H.C.
José V. V. do
Nascimento
(n. 1989)
Deixa a palavra
escorregar II
Analisar
o poema
é tirar
do pássaro
as penas
Esmiuçar o
eu passarinho
faz cair
a ave
do ninho
Pensar demais
torna anêmico
sem sangue
sem cor:
acadêmico
O Pintassilgo
(Carel Fabritius: pintor
holandês)
Referência:
VIEIRA DO NASCIMENTO, José Vander. Deixa a palavra escorregar II. In: MACHADO, Lino et alii. Coletânea de poemas: prêmio Ufes de literatura. Vitória, ES: Edufes, 2015. p. 118. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 jan. 2024.
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