Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 13 de janeiro de 2024

Mário Chamie - Caravana contrária

Chamie joga com as palavras para criar associações reversas em relação à máxima “Os cães ladram e a caravana passa”, em franca conexão com o lado pretensamente racional do pensamento e, por extensão, da ação humana: “Caravana contrária” porque os que passam são os cães ladrantes e não a caravana, nomeadamente os que julgam ter convicções no âmbito da razão, certezas muitas vezes indemonstráveis, a bem mais revelar um apetite pelo poder.

 

Notoriamente explícitas são as transmutações elaboradas em tropos bastante empregados no domínio dos postulados epistemológicos, como “teses sem antíteses” (“tese, antítese e síntese”) ou “som sentido” (“sem sentido” ou nonsense): à convicção acerca da infalibilidade do conhecimento opõe-se, “invicto”, o próprio “infinito” – esse mar de possibilidades incógnitas, por onde voga desgovernado esse “caniço pensante”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Mário Chamie

(1933-2011)

 

Caravana contrária

 

Os cães da razão

latem convictos.

 

Os seus latidos

são teses

sem antíteses.

Um vazio

som sentido.

 

Assíduos ruídos,

os cães passam

e invicto

persiste o infinito.

 

Passeio a cavalo

(Heywood Hardy: pintor inglês)

 

Referência:

 

CHAMIE, Mário. Caravana contrária. In: __________. Caravana contrária: poemas. São Paulo, SP: Geração Editorial, 1998. p. 13.

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