Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Lélia Coelho Frota - A janela de Fernando Pessoa

De Fernando Pessoa, detentor de um estado mental multivariado, a poetisa carioca apreende saudades de saudades, recordações nostálgicas translativas que, em primeiro grau, surgem abstraídas à distância – pois que Lisboa é o seu ponto de mirada preferencial, janela que se abre a um estuário de cenas transmutadas a uma cornucópia de outros tantos vislumbres –, mas que logo após associam-se a uma cidade jamais visitada pelo poeta lusitano – Paris.

 

A perplexidade tencionada pela poetisa carioca à mirada do leitor, como se percebe, resulta da presunção em se ter saudade de um sítio perante o qual se está presente – e não em outro tempo e/ou lugar –, assim como se ter saudade de um lugar onde nunca se esteve, do qual somente a imaginação poderia suscitar suspiros nostálgicos: ah... o visionário que assoma da pena de poetas daqui e de além-mar!

 

J.A.R. – H.C.

 

Lélia Coelho Frota

(1938-2010)

 

A janela de Fernando Pessoa

 

Estar em Lisboa

era ter saudade de Paris.

Quis

o destino de um amor brotado

como ervas, à beira do rio súbito,

a confundir a calma

da longa degustação da própria alma

 

que estar em Lisboa

fosse ter saudade de Lisboa

onde se tinha saudade de Paris.

 

O olhar para fora

(Henry Scott Tuke: pintor inglês)

 

Referência:

 

FROTA, Lélia Coelho. A janela de Fernando Pessoa. In: __________. Poesia reunida: 1956-2006. 1. ed. Rio de Janeiro, RJ: Bem-Te-Vi, 2012. p. 407.

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