Mediante este
poema-parábola, o autor alemão busca acercar-se do próprio poema – uma espécie
de vitral pintado –, a partir da perspectiva de quem o contempla pelo lado de
fora – quando desperta a sensação de ser “escuro e sombrio” –, e pelo lado de
dentro – feito ornamento de uma “sagrada capela”, atravessado por raios que espargem
as suas cores, permitindo entrever o elemento móbil de suas histórias.
Perceba-se que o
tradutor do poema não verteu o poema ao português em sua literalidade,
sobretudo no ponto em que Goethe, no quarto verso da primeira estrofe, refere-se
aos filisteus – os novos filisteus, claro está! (os “senhores burgueses”, para Paulo Quintela)
–, ou seja, aqueles que, por indolência ou fugindo a toda faina, esquivam-se do
esforço de lidar com os enunciados e imagens de um poema, elucidando-lhe as metáforas.
J.A.R. – H.C.
J. W. Goethe
Retratado por Louise
Seidler
(1749-1832)
Parabel
Gedichte sind gemalte
Fensterscheiben!
Sieht man vom Markt
in die Kirche hinein
Da ist alles dunkel
und düster;
Und so siehts auch
der Herr Philister:
Der mag denn wohl
verdriesslich sein
Und lebenslang
verdriesslich bleiben.
Kommt aber nur einmal
herein!
Begrüsst die heilige
Kapelle;
Da ists auf einmal
farbig helle,
Geschicht und Zierat
glánzt in Schnelle,
Bedeutend wirkt ein
edler Schein;
Dies wird euch
Kindern Gottes taugen,
Erbaut euch und
ergetzt die Augen!
Poema ao crepúsculo
(Dorina Costras:
pintora romena)
Parábola
Poemas são como
vitrais pintados!
Se olharmos da praça
para a igreja,
Tudo é escuro e
sombrio;
E é assim que o
Senhor Burguês os vê.
Ficará agastado? –
Que lhe preste!...
E agastado fique toda
a vida!
Mas – vamos! – vinde
vós cá para dentro,
Saudai a sagrada
capela!
De repente tudo é
claro de cores:
Súbito brilham histórias
e ornatos;
Sente-se um presságio
neste esplendor nobre;
Isto, sim, que é pra
vós, filhos de Deus!
Edificai-vos, regalai
os olhos!
Referência:
GOETHE, J. W. Parabel
/ Parábola. Tradução de Paulo Quintela. In: __________. Poemas.
Antologia, versão portuguesa, notas e comentários de Paulo Quintela. 4. ed.
conforme a anterior. Coimbra, PT: Centelha, 1986.Em alemão: p. 198; em
português: p. 199. (Coleção ‘Poesia: autores universais; v. 1)
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