Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 16 de janeiro de 2024

J. W. Goethe - Parábola

Mediante este poema-parábola, o autor alemão busca acercar-se do próprio poema – uma espécie de vitral pintado –, a partir da perspectiva de quem o contempla pelo lado de fora – quando desperta a sensação de ser “escuro e sombrio” –, e pelo lado de dentro – feito ornamento de uma “sagrada capela”, atravessado por raios que espargem as suas cores, permitindo entrever o elemento móbil de suas histórias.

 

Perceba-se que o tradutor do poema não verteu o poema ao português em sua literalidade, sobretudo no ponto em que Goethe, no quarto verso da primeira estrofe, refere-se aos filisteus – os novos filisteus, claro está! (os “senhores burgueses”, para Paulo Quintela) –, ou seja, aqueles que, por indolência ou fugindo a toda faina, esquivam-se do esforço de lidar com os enunciados e imagens de um poema, elucidando-lhe as metáforas.

 

J.A.R. – H.C.

 

J. W. Goethe

Retratado por Louise Seidler

(1749-1832)

 

Parabel

 

Gedichte sind gemalte Fensterscheiben!

Sieht man vom Markt in die Kirche hinein

Da ist alles dunkel und düster;

Und so siehts auch der Herr Philister:

Der mag denn wohl verdriesslich sein

Und lebenslang verdriesslich bleiben.

 

Kommt aber nur einmal herein!

Begrüsst die heilige Kapelle;

Da ists auf einmal farbig helle,

Geschicht und Zierat glánzt in Schnelle,

Bedeutend wirkt ein edler Schein;

Dies wird euch Kindern Gottes taugen,

Erbaut euch und ergetzt die Augen!

 

Poema ao crepúsculo

(Dorina Costras: pintora romena)

 

Parábola

 

Poemas são como vitrais pintados!

Se olharmos da praça para a igreja,

Tudo é escuro e sombrio;

E é assim que o Senhor Burguês os vê.

Ficará agastado? – Que lhe preste!...

E agastado fique toda a vida!

 

Mas – vamos! – vinde vós cá para dentro,

Saudai a sagrada capela!

De repente tudo é claro de cores:

Súbito brilham histórias e ornatos;

Sente-se um presságio neste esplendor nobre;

Isto, sim, que é pra vós, filhos de Deus!

Edificai-vos, regalai os olhos!

 

Referência:

 

GOETHE, J. W. Parabel / Parábola. Tradução de Paulo Quintela. In: __________. Poemas. Antologia, versão portuguesa, notas e comentários de Paulo Quintela. 4. ed. conforme a anterior. Coimbra, PT: Centelha, 1986.Em alemão: p. 198; em português: p. 199. (Coleção ‘Poesia: autores universais; v. 1)

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