Laurence Olivier
(1907-1989), no prelúdio de seu renomado filme “Hamlet”, de 1948, afirma: “Esta
é a história de um homem que não conseguia se revolver”. Perplexo ou desnorteado
– adjetivo que, aliás, aparece em itálico e entre parênteses, interposto aos
dois últimos versos da derradeira estrofe, a julgar pela transcrição do poema
no sítio da poetisa na internet (v. aqui) –, Hamlet,
nestes versos de Tsvetáeva, revela o quanto era, paradoxalmente, sincero e ao
mesmo tempo dúbio o seu sentimento de amor por Ofélia.
O poema, redigido ao
estilo de uma elucubração filosófica, surge titulado como se um diálogo fosse, malgrado,
em verdade, seja um monólogo da personagem com a sua própria consciência: o
relacionamento acabara, muito embora as imagens evocadas ao presumido suicídio
de Ofélia por afogamento – lodo, algas, leito de rio – sustentem a quimera de
uma miragem que teima em perdurar.
J.A.R. – H.C.
Marina Tsvetáeva
(1892-1941)
Диалог Гамлета с Совестью
– На дне она, где ил
И водоросли... Спать в них
Ушла, – но сна и там нет!
– Но я её любил,
Как сорок тысяч братьев
Любить не могут!
– Гамлет!
На дне она, где ил:
Ил!.. И последний венчик
Всплыл на приречных брёвнах...
– Но я её любил,
Как сорок тысяч...
– Меньше
Всё ж, чем один любовник.
– На дне она, где ил.
– Но я её –
любил??
5 июня 1923
Hamlet e sua mãe
(Eugène Delacroix:
pintor francês)
Diálogo de Hamlet com
a Consciência
– No fundo ela, onde é lodo
E algas.... Ela foi
dormir
Com eles – mas lá não há sono!
– Mas eu a amei,
Como quarenta mil
irmãos
Não podem amar!
– Hamlet!
– No fundo ela, onde é lodo:
Lodo!... E a última
grinalda
Surgiu num tronco no
riachinho...
– Mas eu a amei,
Como quarenta mil...
– Menos
Porém, do que um
amante.
– No fundo ela, onde é lodo.
– Mas eu a –
amei?
5 de julho de 1923
Referência:
TSVETÁEVA, Marina. Диалог гамлета с совестью / Diálogo de Hamlet com a consciência.
Tradução de Veronica Filíppovna. In: (n.t.) Revista Literária em
Tradução. Florianópolis, SC. Edição bilíngue semestral, ano 1, n. 1, 1.
vol., set. 2010. Em russo: 24; em português: p. 42. Disponível neste
endereço. Acesso em: 20 jan. 2024.
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