Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Marina Tsvetáeva - Diálogo de Hamlet com a consciência

Laurence Olivier (1907-1989), no prelúdio de seu renomado filme “Hamlet”, de 1948, afirma: “Esta é a história de um homem que não conseguia se revolver”. Perplexo ou desnorteado – adjetivo que, aliás, aparece em itálico e entre parênteses, interposto aos dois últimos versos da derradeira estrofe, a julgar pela transcrição do poema no sítio da poetisa na internet (v. aqui) –, Hamlet, nestes versos de Tsvetáeva, revela o quanto era, paradoxalmente, sincero e ao mesmo tempo dúbio o seu sentimento de amor por Ofélia.

 

O poema, redigido ao estilo de uma elucubração filosófica, surge titulado como se um diálogo fosse, malgrado, em verdade, seja um monólogo da personagem com a sua própria consciência: o relacionamento acabara, muito embora as imagens evocadas ao presumido suicídio de Ofélia por afogamento – lodo, algas, leito de rio – sustentem a quimera de uma miragem que teima em perdurar.

 

J.A.R. – H.C.

 

Marina Tsvetáeva

(1892-1941)

 

Диалог Гамлета с Совестью

 

На дне она, где ил

И водоросли... Спать в них

Ушла, но сна и там нет!

Но я её любил,

Как сорок тысяч братьев

Любить не могут!

Гамлет!

 

На дне она, где ил:

Ил!.. И последний венчик

Всплыл на приречных брёвнах...

Но я её любил,

Как сорок тысяч...

Меньше

 

Всё ж, чем один любовник.

На дне она, где ил.

Но я её

любил??

 

5 июня 1923

 

Hamlet e sua mãe

(Eugène Delacroix: pintor francês)

 

Diálogo de Hamlet com a Consciência

 

No fundo ela, onde é lodo

E algas.... Ela foi dormir

Com eles mas lá não há sono!

Mas eu a amei,

Como quarenta mil irmãos

Não podem amar!

Hamlet!

 

No fundo ela, onde é lodo:

Lodo!... E a última grinalda

Surgiu num tronco no riachinho...

Mas eu a amei,

Como quarenta mil...

Menos

Porém, do que um amante.

 

No fundo ela, onde é lodo.

Mas eu a

amei?

 

5 de julho de 1923

 

Referência:

 

TSVETÁEVA, Marina. Диалог гамлета с совестью / Diálogo de Hamlet com a consciência. Tradução de Veronica Filíppovna. In: (n.t.) Revista Literária em Tradução. Florianópolis, SC. Edição bilíngue semestral, ano 1, n. 1, 1. vol., set. 2010. Em russo: 24; em português: p. 42. Disponível neste endereço. Acesso em: 20 jan. 2024.

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