Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Robert Creeley - O Padrão

O padrão linguístico é o tema deste poema de Creeley, naquilo que impõe limites ou, de alguma forma, condiciona a subjetividade: com tangíveis nuances wittgensteinianas, a álgebra poética do autor desnuda as dificuldades de se pensar o sujeito a partir de um enfoque que não se ajuste à heteronomia, com o consequente apelo à recursividade e à tautologia, fragilizando a consistência do discurso e impondo um quase sem sentido aos versos.

 

O leitor pode perceber que a versão ao português, abaixo apresentada, resulta de uma das muitas leituras alternativas do poema, ante as suas quebras de linha e a lógica sintática de seus enunciados: impossibilitado de pronunciar uma “verdade”, o sujeito tem o seu lugar tomado pela fala, que o desloca até o ponto onde este depara com a sua identidade confinada, com a ideia de si mesmo reduzida à míngua.

 

J.A.R. – H.C.

 

Robert Creeley

(1926-2005)

 

The Pattern

 

As soon as

I speak, I

speaks. It

 

wants to

be free but

impassive lies

 

in the direction

of its

words. Let

 

x equal x, x

also

equals x. I

 

speak to

hear myself

speak? I

 

had not thought

that some-

thing had such

 

undone. It

was an idea

of mine.

 

In: “Words” (1965)

 

Beira do Lago I

(Karla Gerard: Pintora norte-americana)

 

O Padrão

 

Logo que me ponho

a falar, o eu

fala. Ele

 

quer ser

livre mas

imperturbável estende-se

 

na direção

de suas

palavras. Que

 

x seja igual a x, torna x

também

igual a x. Falo

 

para

escutar-me

falar? Jamais

 

imaginara

que uma coisa

qualquer pudesse se desfazer

 

tanto. E era

uma

de minhas ideias.

 

Em: “Palavras” (1965)

 

Referência:

 

CREELEY, Robert. The pattern. In: __________. The collected poems of Robert Creeley: 1945-1975. 1st ed. Berkeley, CA: University of California Press, 1982. p. 294.

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