O padrão linguístico
é o tema deste poema de Creeley, naquilo que impõe limites ou, de alguma forma,
condiciona a subjetividade: com tangíveis nuances wittgensteinianas, a álgebra
poética do autor desnuda as dificuldades de se pensar o sujeito a partir de um
enfoque que não se ajuste à heteronomia, com o consequente apelo à recursividade
e à tautologia, fragilizando a consistência do discurso e impondo um quase sem
sentido aos versos.
O leitor pode
perceber que a versão ao português, abaixo apresentada, resulta de uma das
muitas leituras alternativas do poema, ante as suas quebras de linha e a lógica
sintática de seus enunciados: impossibilitado de pronunciar uma “verdade”, o
sujeito tem o seu lugar tomado pela fala, que o desloca até o ponto onde este depara
com a sua identidade confinada, com a ideia de si mesmo reduzida à míngua.
J.A.R. – H.C.
Robert Creeley
(1926-2005)
The Pattern
As soon as
I speak, I
speaks. It
wants to
be free but
impassive lies
in the direction
of its
words. Let
x equal x, x
also
equals x. I
speak to
hear myself
speak? I
had not thought
that some-
thing had such
undone. It
was an idea
of mine.
In: “Words” (1965)
Beira do Lago I
(Karla Gerard:
Pintora norte-americana)
O Padrão
Logo que me ponho
a falar, o eu
fala. Ele
quer ser
livre mas
imperturbável estende-se
na direção
de suas
palavras. Que
x seja igual a x, torna
x
também
igual a x. Falo
para
escutar-me
falar? Jamais
imaginara
que uma coisa
qualquer pudesse se desfazer
tanto. E era
uma
de minhas ideias.
Em: “Palavras” (1965)
Referência:
CREELEY, Robert. The
pattern. In: __________. The collected poems of Robert Creeley: 1945-1975.
1st ed. Berkeley, CA: University of California Press, 1982. p. 294.
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