Os versos deste poema
reproduzem um hipotético diálogo entre algum membro da família dos Sforza de Milão
com Leonardo da Vinci (1452-1519) e, aparentemente, outros presentes, próximo ao
final da primeira estadia do artista naquela cidade, ocorrida entre 1482 e
1499.
O interlocutor de
Leonardo acusa-o de dispersão nos trabalhos e pouca atenção aos detalhes de
durabilidade e finalização de suas obras – a exemplo das frágeis pinturas sobre
gesso ou mesmo do baldado esforço em levar a cabo o monumento equestre em homenagem a Francesco
Sforza (1401-1466).
Ademais, suscita a
pouca habilidade de Leonardo em trabalhos de estatuária e em amplas pinturas
murais – em claro contraponto às obras de Michelangelo Buonarotti (1475-1564),
sobretudo em Roma.
O poema se encerra
com a transcrição de uma frase atribuída ao grande talento do Renascimento
italiano, a nos dar conta do quanto o artista então se encontrava às voltas com
as questões do planejamento urbano, depois que Milão teve a sua população devastada por uma grave epidemia,
entre 1483 e 1485.
J.A.R. – H.C.
David Markson
(1927-2010)
Dialogue in Milan
“But oil on plaster
yet again?
It cannot set, will
flake and fade
Before your own
life’s done. Old fool,
Near fifty now, at
least this once
Leave something
permanent. That horse
You planned, too huge
to cast, the years!
Go, cross the town,
to sit and stare
Or single brushstroke
fix! The hours
Of waste amid those
notes, those drafts,
What fruit therein,
what end? Back south
Commissions fall to
younger brush,
Not only Raphael in
Rome
But Buonarroti too,
nor even stone
But on the walls as
well, what skill
Hath he in this? Yet
all this time
So little realized,
so much
Diffuse...”
“ ‘Let the street be
as wide
As the height of the
houses.’ ”
Autorretrato
(Leonardo da Vinci:
artista italiano)
Diálogo em Milão
“Mas outra vez óleo
sobre gesso?
Não se pode fixar,
irá desbotar e desvanecer
Antes que finde a tua
própria vida. Velho insensato,
Já perto dos
cinquenta anos, pelo menos desta vez
Deixa algo
permanente. Aquele cavalo
Que planejaste
durante anos, grande demais para moldar.
Retiras-te, cruzas a
cidade, sentas-te a observar
Ou a recompor uma
simples pincelada! As horas
Perdidas entre essas
notas, esses rascunhos,
Qual o proveito
disso, qual o propósito? Do lado oposto,
Ao sul, as comissões inclinam-se
a pincéis mais jovens,
Não somente Rafael em
Roma,
Mas também Buonarotti;
não apenas na estatuária,
Como também nas
paredes, que habilidade
Tem ele nesses
misteres? No entanto, todo esse tempo
Tão pouco profícuo, dispersado
De fato...”
“ ‘Que a rua seja tão
larga
quanto a altura das
casas.’ ”
Referência:
MARKSON, David.
Dialogue in Milan. In: __________. Collected poems. 1st ed. Normal, IL: Dalkey
Archive Press, 1993. p. 32.
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