Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 30 de janeiro de 2024

David Markson - Diálogo em Milão

Os versos deste poema reproduzem um hipotético diálogo entre algum membro da família dos Sforza de Milão com Leonardo da Vinci (1452-1519) e, aparentemente, outros presentes, próximo ao final da primeira estadia do artista naquela cidade, ocorrida entre 1482 e 1499.

 

O interlocutor de Leonardo acusa-o de dispersão nos trabalhos e pouca atenção aos detalhes de durabilidade e finalização de suas obras – a exemplo das frágeis pinturas sobre gesso ou mesmo do baldado esforço em levar a cabo o monumento equestre em homenagem a Francesco Sforza (1401-1466).

 

Ademais, suscita a pouca habilidade de Leonardo em trabalhos de estatuária e em amplas pinturas murais – em claro contraponto às obras de Michelangelo Buonarotti (1475-1564), sobretudo em Roma.

 

O poema se encerra com a transcrição de uma frase atribuída ao grande talento do Renascimento italiano, a nos dar conta do quanto o artista então se encontrava às voltas com as questões do planejamento urbano, depois que Milão teve a sua população devastada por uma grave epidemia, entre 1483 e 1485.

 

J.A.R. – H.C.

 

David Markson

(1927-2010)

 

Dialogue in Milan

 

“But oil on plaster yet again?

It cannot set, will flake and fade

Before your own life’s done. Old fool,

Near fifty now, at least this once

Leave something permanent. That horse

You planned, too huge to cast, the years!

Go, cross the town, to sit and stare

Or single brushstroke fix! The hours

Of waste amid those notes, those drafts,

What fruit therein, what end? Back south

Commissions fall to younger brush,

Not only Raphael in Rome

But Buonarroti too, nor even stone

But on the walls as well, what skill

Hath he in this? Yet all this time

So little realized, so much

Diffuse...”

 

“ ‘Let the street be as wide

As the height of the houses.’ ”

 

Autorretrato

(Leonardo da Vinci: artista italiano)

 

Diálogo em Milão

 

“Mas outra vez óleo sobre gesso?

Não se pode fixar, irá desbotar e desvanecer

Antes que finde a tua própria vida. Velho insensato,

Já perto dos cinquenta anos, pelo menos desta vez

Deixa algo permanente. Aquele cavalo

Que planejaste durante anos, grande demais para moldar.

Retiras-te, cruzas a cidade, sentas-te a observar

Ou a recompor uma simples pincelada! As horas

Perdidas entre essas notas, esses rascunhos,

Qual o proveito disso, qual o propósito? Do lado oposto,

Ao sul, as comissões inclinam-se a pincéis mais jovens,

Não somente Rafael em Roma,

Mas também Buonarotti; não apenas na estatuária,

Como também nas paredes, que habilidade

Tem ele nesses misteres? No entanto, todo esse tempo

Tão pouco profícuo, dispersado

De fato...”

 

“ ‘Que a rua seja tão larga

quanto a altura das casas.’ ”

 

Referência:

 

MARKSON, David. Dialogue in Milan. In: __________. Collected poems. 1st ed. Normal, IL: Dalkey Archive Press, 1993. p. 32.

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