Por meio de um insólito
acordo, o poeta substabeleceu o seu ofício a uma caneta Sheaffer em troca de
cigarros e de tranquilizantes e, em consequência, volta e meia, a caneta pôs-se
a perguntar o significado de determinada palavra empregada. Resultado: um tipo
de poesia com “versos espantosos”, uma verdadeira “droga para dormir” – um
sonífero, dir-se-ia.
As linhas do poema
transcorrem hilárias – e tal, sem dúvida, é o efeito colimado pelo poeta sino-panamenho:
ao final, o falante requer aos leitores que sigam estritamente a receita para a
leitura dos versos – “sem comer os pontos e as vírgulas” –, pois não tem a
intenção de assistir a um enterro, caso o efeito do aludido sonífero estenda-se
para muito além do prescrito! (rs)
J.A.R. – H.C.
César Young Núnez
(1934-2017)
A solicitud de parte interesada
Con la mano en el
pecho de mi libro,
certifico que estos
versos espantosos,
no fueron escritos
por mi mano.
Ustedes me
preguntarán quién pudo ser.
La verdad sea dicha
sin tapujos!
Fue mi pluma
Sheaffer!
Verán ustedes mis
carísimos lectores.
Hice un trato con mi
buena amiga la Poesía:
dos cajetillas de
cigarrillos por poema,
y una caja de ecuanil
para los nervios.
Menudo lío que me
metí con este trato.
A cada rato me
llamaba la pluma por teléfono
preguntándome el
significado de un vocablo.
A los que hagan el
esfuerzo de leerlos,
sin comerse los
puntos y las comas,
(No confundir con un restorán
el libro)
desde la primera
hasta la última palabra
yo les doy las buenas
noches,
mi poesía es una
droga de dormir.
Antes de terminar les
pido,
ceñirse estrictamente
a la receta.
No tengo ganas
de asistir a un
entierro.
En: “Poemas de rutina”
(1967)
Retrato de um homem
escrevendo
em seu gabinete
(Gustave Caillebotte:
pintor francês)
A pedido de parte
Interessada
Com a mão no peito de
meu livro,
certifico que estes
versos espantosos
não foram escritos
pela minha mão.
Perguntar-me-ão quem
os poderia ter feito.
A verdade seja dita
sem subterfúgio!
Foi minha caneta Sheaffer!
Como veem, meus
caríssimos leitores.
Fiz um trato com a
minha boa amiga – a Poesia:
dois maços de cigarro
por poema
e uma caixa de tranquilizantes
para os nervos.
Meti-me em confusão
com esse negócio.
De vez em quando a
caneta telefonava-me
para perguntar o
significado de um vocábulo.
Àqueles que se derem
ao trabalho de lê-los,
sem comer os pontos e
as vírgulas,
(Não confundir o
livro com um restaurante)
da primeira à última
palavra,
dou-lhes as boas
noites,
minha poesia é uma
droga para dormir.
Antes de terminar,
peço-lhes
que sigam
rigorosamente a receita.
Não pretendo
assistir a um
funeral.
Em: “Poemas de rotina”
(1967)
Referência:
NÚNEZ, César Young. A
solicitud de parte interesada. In: VEJA, Luis Wong; JAMES, Winston Churchill;
LEW, Rita Wong (Sels.). 1. ed. Vástagos del Dragón: 26 poetas chino-panameños.
Panamá (PA): Ediciones del Año de la Cabra de Madera, mar. 2015. p. 44.
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