Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Wisława Szymborska - Uma menininha puxa a toalha

A criança busca apreender o mundo através de experiência direta, a mais legítima “empiria”, puxando a toalha da mesa onde se encontram copos, pratos, tigelas e outras peças, para fazê-las voar, mantendo-as sob o efeito da gravidade tão propalada por Newton – muito embora ainda desconheça o que sejam as leis da Física.

 

O conhecimento sistematizado dos fenômenos da realidade não se restringe, evidentemente, ao empirismo, conquanto satisfaça, por igual, à humana necessidade de saber como “funcionam” as coisas do mundo, permitindo-nos que exerçamos domínio sobre elas: mal ainda a dominar a linguagem, a menininha logo inferirá algumas lições de causa e efeito como resultado de suas ações!

 

J.A.R. – H.C.

 

Wisława Szymborska

(1923-2012)

 

Mała dziewczynka ściąga obrus

 

Od ponad roku jest się na tym świecie,

a na tym świecie nie wszystko zbadane

i wzięte pod kontrolę.

 

Teraz w próbach są rzeczy,

które same nie mogą się ruszać.

 

Trzeba im w tym pomagać,

przesuwać, popychać,

brać z miejsca i przenosić.

 

Nie każde tego chcą, na przykład szafa,

kredens, nieustępliwe ściany, stół.

 

Ale już obrus na upartym stole

– jeżeli dobrze chwycony za brzegi –

objawia chęć do jazdy.

 

A na obrusie szklanki, talerzyki,

dzbanuszek z mlekiem, łyżeczki, miseczka

aż trzęsą się z ochoty.

 

Bardzo ciekawe,

jaki ruch wybiorą,

kiedy się już zachwieją na krawędzi:

wędrówki po suficie?

lot dookoła lampy?

skok na parapet okna, a stamtąd na drzewo?

 

Pan Newton nie ma jeszcze nic do tego.

Niech sobie patrzy z nieba i wymachuje rękami.

 

Ta próba dokonana być musi.

I będzie.

 

Od: “Chwila” (2002)

 

O Almoço

(Claude Monet: pintor francês)

 

Uma menininha puxa a toalha

 

Faz mais de um ano que se está neste mundo,

e neste mundo nem tudo foi examinado

e posto sob controle.

 

Agora são testadas as coisas

que não podem se mexer sozinhas.

 

É preciso dar uma mãozinha,

deslocar, empurrar,

tirar do lugar, transportar.

 

Nem todas querem ir; por exemplo, o armário,

a estante, as paredes inflexíveis, a mesa.

 

Já a toalha nessa mesa teimosa,

– com uma boa pegada pelas bordas –

mostra disposição para a viagem.

 

Na toalha copos, pratinhos,

tigelinha, bulezinho com leite, colherinhas

até tremem de vontade.

 

Interessante ver

que movimento vão escolher

quando já balançam na beirada:

uma viagem pelo teto?

um voo ao redor da lâmpada?

um salto para o parapeito e dali para a árvore?

 

O sr. Newton ainda não tem nada a ver com isso.

Ele que assista lá do céu e acene com as mãos.

 

Essa prova tem que ser completada.

E será.

 

Em: “Instante” (2002)

 

Referência:

 

SZYMBORSKA, Wisława. Mała dziewczynka ściąga obrus / Uma menininha puxa a toalha. Tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. In: __________. Para o meu coração num domingo. Seleção, tradução e prefácio de Regina Przybycien e Gabriel Borowski. 1. ed. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2020. Em polonês: p. 234 e 236; em português: p. 235 e 237.

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